A indústria automotiva brasileira
A indústria automotiva brasileira precisa trabalhar para entender qual papel vai ocupar globalmente com o avanço da nova mobilidade. Esta é a visão de Wilson Bricio, consultor e presidente honorário da VDI (Associação da Engenharia Brasil-Alemanha). O especialista também é embaixador do #ABX20 – Automotive Business Experience, evento essencial a quem atua no setor automotivo e de mobilidade.
O executivo tem propriedade para tratar da realidade da indústria, já que desempenhou por 14 anos a função de presidente da ZF para a América do Sul. Segundo ele, este é o momento das lideranças investirem no desenvolvimento de novos modelos de negócios e tecnologias, na busca por inovar e em soluções capazes de agregar valor à mobilidade globalmente.
“Se não nos movimentarmos, em 10 anos, o que a indústria automotiva brasileira tem a oferecer não vai valer nada”, resume. Na entrevista a seguir, ele detalha quais caminhos podem contribuir para que a indústria permaneça relevante no contexto global.
Quais são as discussões sobre mobilidade e setor automotivo mais necessárias ao Brasil neste momento? |
Precisamos tirar um pouco o foco da busca por produtividade com tecnologias antigas e pensar em quem queremos ser dentro da nova mobilidade. Sabemos que o futuro será do carro elétrico, autônomo, conectado e dos deslocamentos otimizados para o usuário. A questão é o que queremos produzir nesse contexto: ofereceremos o hardware, o software ou as duas coisas? Quais outras decisões precisamos tomar?
Discutimos pouco tudo isso e investimos menos do que o necessário na pesquisa de novas soluções. Seguimos correndo atrás do que sempre fizemos. Falta o espírito de inovação na indústria para assumir um posicionamento.
Com o mundo caminhando para uma direção, se continuarmos focados nas mesmas tecnologias, no motores a combustão, não teremos espaço no futuro. |
De que forma o Brasil pode contribuir para a evolução da nova mobilidade no mundo? |
Temos alguns potenciais claros, como o desenvolvimento de soluções de geração de energia limpa e renovável. Um exemplo são as tecnologias para captação e armazenamento de energia solar. Com dedicação, podemos nos tornar um polo do assunto. Ainda nesse campo, há as soluções para baterias, com pesquisa de materiais, que podem fazer muito sentido para o Brasil.
Do ponto de vista humano, temos grandes talentos trabalhando em inteligência artificial e uma competência enorme para esta área. Poderíamos investir nisso e desenvolver conceitos de mobilidade que pudessem ser aplicados em mercados semelhantes ao Brasil, gerando valor ao contexto global. O que não faz sentido é continuarmos na busca por soluções de curto prazo, pensando em defender o nosso mercado.
Se não nos movimentarmos, em 10 anos o que a indústria automotiva brasileira tem a oferecer não vai valer nada. |