Iochpe-Maxion blinda resultado com expansão global

Estratégia de internacionalização e compras locais vacina empresa contra volatilidade mundial

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Com 34 fábricas em 14 países, a multinacional brasileira Iochpe-Maxion apurou receita operacional recorde em 2019 e parece ter encontrado a fórmula ideal para imunizar seu balanço da forte volatilidade que vem tomando conta dos mercados globais. A empresa consolidou sua ampliação internacional nos últimos anos, aumentou o faturamento em moedas fortes, localizou a compra de insumos nas regiões onde atua (o que reduz exposição cambial), reduziu o peso das dívidas e elevou os lucros. Mais importante, concentrou seu portfólio em produtos que dificilmente saem de moda no fornecimento aos fabricantes de veículos: rodas e componentes estruturais.

“Hoje quase 80% das receitas vêm de fora do Brasil e concentramos nossas compras nas regiões em que atuamos. Isso nos protege da desvalorização cambial e nos últimos anos aumentou nosso faturamento em reais”, explica Marcos de Oliveira, CEO do grupo Iochpe-Maxion.

 

O balanço de 2019 divulgado na semana passada mostra resultados robustos. Após a voraz expansão internacional realizada nos últimos 20 anos, que envolveu aquisições de empresas e associações no exterior, o faturamento global líquido deu saltos de 18% ao ano na última década, saiu de R$ 2,2 bilhões em 2010 para R$ 10 bilhões no ano passado – o maior da história centenária da Iochpe-Maxion, que nasceu em 1918 no ramo madeireiro e já atuou em diversas áreas de negócios até concentrar esforços na produção de componentes estruturais para veículos pesados e se tornar a maior fabricante mundial de rodas (de aço e alumínio), com 55 milhões de unidades produzidas no último ano.

A sede global da companhia continua no Brasil, mas a maior parte do resultado é construído fora do País, em moedas fortes (34% em euros e 30% em dólares), o que turbinou o faturamento em reais – em dólares o crescimento das vendas é menor, em torno de 5% a 6% ao ano. O CEO Marcos de Oliveira lembra que ao longo de 10 anos a empresa praticamente inverteu o peso das suas operações no exterior, de 20% das receitas até 2011 para quase 80% em 2019.

“O Brasil representa cerca de 5% dos mercado global de veículos. Para crescer, era necessário expandir a presença internacional do grupo”, pondera Oliveira.

BAIXA EXPOSIÇÃO AO CORONAVÍRUS E ÀS CRISES

 

A unidade de componentes estruturais da Iochpe-Maxion tem receitas praticamente divididas ao meio entre América do Sul e do Norte, enquanto a divisão de rodas Maxion Wheels tem faturamento mais diversificado, com 45% na Europa, 34% na América do Norte, 21% na América do Sul e 12% na Ásia – configuração que deve mudar nos próximos anos com ampliação da produção nas fábricas na Tailândia e Índia e construção de nova planta na China em associação com a Dongfeng, com capacidade para 2 milhões de rodas de alumínio por ano e que tem inauguração prevista para 2021.

Oliveira afirma que esta é a maior exposição do grupo ao coronavírus, pois a nova unidade fica bem próxima de Wuhu, epicentro da epidemia. “Conseguimos retirar todo o nosso pessoal estrangeiro de lá antes do isolamento da cidade. Essa situação poderá atrasar um pouco a construção, mas até agora é o máximo”, diz. “Ainda temos faturamento baixo na Ásia e qualquer paralisação agora poderá ser recuperada depois. A outra planta que temos na China, mais dedicada a exportações de rodas de aço para caminhões, representa só 1% da receita global e não foi paralisada. Para nós, o maior risco do coronavírus é a redução da demanda global, que também pode ser recuperada. Aí é difícil prever o que vai acontecer, vamos esperar para ver.”

Até na combalida Argentina a Iochpe-Maxion sofre menos. “A maior parte dos componentes para caminhões que produzimos lá é exportada para o Brasil, onde o mercado de veículos pesados está crescendo, por isso somos menos afetados pela crise no país”, explica Oliveira.

RESULTADOS DA EXPANSÃO INTERNACIONAL

 

Os resultados da estratégia de forte expansão internacional da Iochpe-Maxion começaram a ser colhidos nos últimos anos, com crescimento dos lucros e redução das dívidas que foram feitas para financiar as aquisições e novas fábricas. Os recursos foram captados no Brasil e exterior em bancos privados, via empréstimos e lançamentos de títulos em mercado.

Em 2019 a dívida líquida de R$ 2,4 bilhões representou 2,5 vezes o lucro antes de impostos, pagamento de juros e depreciação de ativos (Ebtida, em inglês), que somou pouco mais e R$ 1 bilhão, quase 11% sobre o faturamento. Esse endividamento já chegou a cinco vezes o Ebtida em anos recentes e o objetivo agora é reduzir a alavancagem para 1,5 vez nos próximos anos.

Com o rebaixamento constante do custo das dívidas, que saiu da média de 9,6% ao ano em 2016 para 4,2% em 2019, as margens líquidas vêm aumentando expressivamente. Devido ao grande volume de investimentos em aquisições, o lucro líquido de R$ 6 milhões em 2017 correspondeu à margem de apenas 0,1% das receitas, cifra que saltou para R$ 337 milhões em 2019, em alta de 67% sobre 2018, que representou margem de 3,4%.

Mas os investimentos em inovação de produtos, modernização de processos produtivos e ampliação de plantas continuam e subiram de patamar, saltaram de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões em 2016 e 2017 para R$ 507 milhões e R$ 519 milhões em 2018 e 2019. “Estamos mantendo investimentos da ordem de 35% de nossa geração de caixa”, indica Oliveira.

Após a conclusão de ampliações importantes na Turquia e Índia, ele cita novas expansões de várias plantas da Maxion Wheels este ano, com elevação de capacidade em 400 mil rodas no México, 300 mil na Tailândia e 200 mil no Brasil – a fábrica de Limeira (SP) terá potencial para produzir 1 milhão de rodas de alumínio por ano. Também está em construção uma nova planta de componentes estampados no México, para exportar de lá aos Estados Unidos.

No momento, novas aquisições não estão no radar, mas o executivo não descarta estudar bons negócios se eles surgirem. “Nunca diga nunca, somos uma empresa consolidadora do setor e sempre podemos avaliar boas oportunidades, mas nosso foco no momento é reduzir a alavancagem financeira e consolidar os bons resultados”, resume Oliveira.