FCA Latam
Graças ao aumento de vendas previsto este ano, o grupo FCA Latam (Fiat Chrysler Automobiles) prevê fazer compras de € 4,4 bilhões na América Latina, valor que representa elevação de quase 16% sobre os € 3,8 bilhões aplicados em 2018. No que depender de seus planos futuros, a empresa pretende manter o ritmo de crescimento desse orçamento nos próximos anos, para sustentar sua própria expansão, baseada em um programa de lançamentos de 25 veículos novos e versões até 2024, com investimentos de R$ 16 bilhões no mesmo período somente no Brasil.
Boa parte dos recursos serão direcionados à atualização tecnológica e inovação de processos e produtos, em linha com os conceitos do Rota 2030, programa de desenvolvimento que regulamenta os rumos setor automotivo e concede incentivos em troca de superação de metas de eficiência energética, adoção de sistemas de segurança veicular, maior nacionalização de componentes e investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Esta foi a principal mensagem transmitida pela FCA Latam aos fornecedores durante o Annual Supplier Conference & Awards 2019, realizado em Belo Horizonte (MG) na quinta-feira, 13, para premiar as empresas que mais se destacaram no ano passado (veja a lista completa de premiados. O diretor de compras da divisão latino-americana da FCA, Luis Santamaria, defendeu que os objetivos do Rota 2030 sejam assimilados por toda a cadeia automotiva, como uma nova época para o setor após período debilitante da recessão econômica, ainda não totalmente superada.
“Entendemos muito claramente o que aconteceu nos últimos anos de crise, mas as oportunidades estão abertas a todos. Saímos do Inovar-Auto e hoje temos o Rota 2030, que com metas de eficiência e segurança que devem aumentar a competitividade de toda a cadeia, montadoras e autopeças. Damos assim um grande passo juntos para o futuro”, disse aos fornecedores Luís Santamaria. |
FCA QUER 50 FORNECEDORES EM PERNAMBUCO |
Segundo Santamaria, um dos principais objetivos de sua área atualmente é aumentar a cadeia de suprimentos no entorno da fábrica de Goiana (PE), onde o grau de nacionalização dos modelos Jeep produzidos na unidade gira em torno de 60%, em contraste com 94% em Betim (MG), que reúne cerca de 300 fornecedores (160 diretos) instalados em um raio de até 100 km da planta, em processo iniciado nos anos 1990 que ficou conhecido como “mineirização”.
No polo pernambucano já operam 17 grandes fornecedoras desde a inauguração, em 2015, e mais cinco devem chegar este ano, ainda longe do plano de atrair pelo menos 50 empresas, sendo 25 de médio e grande portes e 25 pequenas. “Com o aumento consistente da produção em Goiana (que opera em três turnos e deve montar 225 mil unidades este ano), estamos evoluindo rápido agora. Os fornecedores estavam hesitantes em fazer o investimento antes, mas hoje estão mais animados em se instalar na região de Pernambuco”, conta Santamaria. “Temos de reduzir os volumes de componentes importados em Goiana”, acrescenta.
LANÇAMENTOS E LOCALIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS |
Também falando durante o evento, Geraldo Barra, diretor de qualidade da FCA Latam, avaliou que a regulamentação e os incentivos trazidos pelo Rota 2030 podem ser aproveitados para recuperar a indústria brasileira de autopeças, combalida após anos de recessão econômica e perda de faturamento do País. “Houve perda de repertório durante a crise e o Rota 2030 traz a oportunidade de resgatar isso, trazer mais tecnologia aos veículos, tornar a indústria mais competitiva e aproveitar os incentivos do programa”, pontuou.
Geraldo Barra, diretor de qualidade da FCA, avalia que Rota 2030 pode devolver “repertório perdido” à indústria de autopeças (Foto: Leo Lara/divulgação FCA)
Por baixo da mensagem do “vamos todos aderir ao Rota 2030 para aproveitar seus incentivos”, será necessário nacionalizar muitas tecnologias para atender aos objetivos do programa e os anseios de um novo consumidor de carros, o que não será possível sem parceria estreita com os fornecedores.
O presidente da FCA Latam, Antonio Filosa, deu algumas pistas do que a fabricante pretende produzir e introduzir em seus modelos Fiat e Jeep fabricados no Brasil. Para os próximos dois anos, está previsto o lançamento de cinco carros novos em 2020 e outros cinco em 2021. “Estamos trabalhando forte no desenvolvimento de fornecedores para atender os 25 lançamentos previstos até 2024, com foco em tecnologia e competitividade”, disse.
Estão em desenvolvimento mais adiantado os dois primeiros SUVs brasileiros da Fiat (de um total de três prometidos) e o que Filosa chamou de “um Jeep superpremium” a ser produzido em Goiana (PE) – possivelmente uma versão alongada do Compass com sete assentos, que pode dar origem a um utilitário esportivo Fiat de tamanho parecido, também a ser fabricado no polo pernambucano. Há pouco mais de um ano a direção mundial da FCA já tinha listado boa parte dessas novidades para o Brasil. Filosa acrescentou ainda aos fornecedores que também espera introduzir em breve a marca de picapes RAM na região.
Em termos de tecnologias, Filosa listou a necessidade de localizar a produção de transmissões automáticas (cada vez mais usadas no mercado brasileiros e até agora sem produção nacional), o aumento do uso de motores turbinados com produção local (já confirmada recentemente) e a introdução de um novo sistema de infoentretenimento a bordo dos carros da FCA, “que será fornecido por um de vocês aqui”, revelou.
Antonio Filosa, presidente da FCA Latam, dá pistas aos fornecedores sobre as principais tecnologias que serão incorporadas aos modelos Fiat e Jeep nos próximos anos (Foto: Leo Lara/divulgação FCA)
“Vamos aumentar o nível de conectividade de todos os veículos e criar uma plataforma de serviços conectados. Nossos carros vão dizer ‘bom dia’ e chamar seus motoristas pelo nome”, destacou Antonio Filosa. |
Para as fábricas da FCA na América Latina, o executivo afirmou que vai ser aprofundado o processo de digitalização e manufatura 4.0. Das três plantas em operação, estão previstos investimentos de R$ 7,5 bilhões em Goiana, inaugurada em 2015 e uma das mais modernas e produtivas do grupo em todo o mundo, e R$ 8,5 bilhões vão para Betim, que já passou por profunda modernização nos últimos anos e vai ganhar uma nova linha de motores turbinados. Os aportes nas duas unidades brasileiras incluem também o desenvolvimento dos produtos que serão produzidos nelas. A fábrica de Córdoba, na Argentina, foi toda remodelada recentemente para fazer o sedã Cronos e opera apenas em um turno com baixos volumes, portanto não deve receber novos recursos tão cedo, enquanto persistir a forte recessão econômica no país.
AJUDA AOS FORNECEDORES |
Na visão do presidente da FCA Latam, que em anos recentes também já foi o diretor de compras do grupo na região, durante os anos de crise mais profunda os fornecedores “se comportaram com muito profissionalismo e mostraram resistência quase heroica”, avaliou. Segundo ele, no período mais agudo da recessão a montadora precisou ajudar algumas empresas para evitar o rompimento de elos de sua cadeia de suprimentos.
“Não permitimos que muitos deles fechassem. Em alguns casos adiantamos pagamentos, em outros permitimos que eles fornecessem a outras empresas, porque sabemos que sem eles não somos nada”, afirmou. Ele citou o exemplo de um fabricante de peças plásticas injetadas localizado no cinturão de fornecedores ao lado da fábrica de Betim: “Se não ajudássemos, poderia quebrar e nós teríamos de paralisar a produção por falta de peças, piorando ainda mais a situação”, contou.