Caminhão autônomo
Depois de “ouvir as estradas” para lançar produtos mais adequados às necessidades dos clientes, Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, disse que a fabricante de veículos comerciais também começou a “ouvir o campo”. Assim ele definiu o lançamento do primeiro caminhão com direção autônoma da marca no País, desenvolvido em conjunto com a Grunner Tecnologia para trabalhar na colheita de cana-de-açucar. Dois deles já estão em operação e outros 16 foram encomendados, segundo revelou Schiemer durante o salão de veículos comerciais de Hannover (o IAA Nutzfahrzeuge 2018, de 20 a 27 de setembro), na Alemanha.
“Unimos o conhecimento agrícola da Grunner e a experiência da Mercedes-Benz em caminhões fora-de-estrada para desenvolver um produto de avançada tecnologia com excelente desempenho e produtividade no transbordo de cana picada. Como resultado, a solução da Grunner é aplicada com exclusividade nos caminhões da marca, que atenderam às demandas do nosso parceiro. Ou seja, a Mercedes ouve também o campo”, afirma Schiemer. |
Dois modelos pesados Axor 3131 8×4 modificados já estão em operação 24 horas por dia em fazendas da na Agro Cana Caiana, na região de Lençóis Paulista (SP). “Outros 16 já foram encomendados e temos mais 20 negociações em andamento com clientes interessados. Só tínhamos mostrado esse caminhão na Agrishow, o modelo só ficou pronto para venda há um mês e já é um sucesso”, comemorou executivo. “Com sorte teremos muitos desses veículos rodando nas plantações de cana do País.”
Além de ouvir o campo, a Mercedes também ouviu a concorrente Volvo, que em 2017 começou os testes (leia mais aqui) e no início deste mês fez a primeira entrega de sete caminhões autônomos VM 6×4 para colheita de cana da usina Santa Terezinha, também na região canavieira paulista. Para se diferenciar por ter saído um pouco atrás nessa nova corrida do mercado brasileiro de caminhões fora-de-estrada, executivos da Mercedes garantem que entregam uma solução mais produtiva, com um eixo direcional adicional que eleva a capacidade de carga para 18 toneladas – contra 14,5 t do Volvo, que alega poder entregar a mesma solução com um eixo extra se o cliente pedir.
Preparado para não estragar a plantação
O Axor 3131 8×4 opera ao lado da colheitadeira de cana, também autônoma. Juntos eles trafegam a 6 km/h na operação de colheita. O caminhão é especialmente adaptado com pneus especiais de alta flutuação e bitola entre as rodas especialmente alargada de 1 a 2,5 metros (pode ter até 3 metros de largura, dependendo da plantação), para passar exatamente no meio das linhas plantadas sem pisotear os brotos de cana soca, que após o corte dão origem a algo como cinco safras. Com isso, segundo a Mercedes, o cliente aumentou sua produtividade em 10%.
“Principalmente em fazendas menores a perda com pisoteamento é substancial, faz muita diferença e pode significar o lucro ou prejuízo de uma safra”, destaca Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing das Mercedes-Benz do Brasil. Segundo ele, a fabricante oferece a solução autônoma com a maior capacidade de carga do segmento, o que reduz de 20% a 30% o custo da operação, graças ao menor número de viagens entre a colheita e o transbordo da cana picada para caminhões maiores.
Outras vantagens aferidas nos testes
A Mercedes enumera ainda outras vantagens aferidas nos testes com seu caminhão autônomo na operação: 50% de redução de consumo com aceleração constante do sistema, uso de 40% menos lubrificantes, abatimento de 30% nos custos com peças de reposição, menor impacto ambiental, investimento menor do que um trator e maior conforto para o motorista, que fica ao volante na cabine climatizada apenas para monitorar a operação – já que a direção e aceleração é definida automaticamente pelo sistema – e depois guia o veículo para o transbordo.
“Basta fazer o cálculo: no Brasil um trator custa cerca de R$ 1,5 mil por cavalo. Para uma operação como esta seria necessário um modelo com cerca de 300 cavalos, o que dá mais de R$ 450 mil, sem a mesma eficiência de consumo e conforto para o operador. O caminhão tem custo melhor”, afirma Leoncini. “O Axor 3131 8×4 já provou ser a melhor solução para essa aplicação, com quatro transbordos pode completar um treminhão (com mais de 70 toneladas), por isso somos líderes no segmento fora-de-estrada com 51% de participação e 1,9 mil unidades vendidas este ano”, reforça.
“Depois de vários estudos, chegamos à conclusão de que o caminhão é a melhor solução para acompanhar a colhedora na colheita da cana. O veículo nos dá mais agilidade no transbordo do que um trator e exige menor custo operacional. Além disso, aplicamos no caminhão a tecnologia da direção autônoma, o que trouxe muito mais precisão ao processo de colheita e transbordo”, explica Mateus Belei, sócio-proprietário da Agro Cana Caiana e diretor comercial da Grunner.
Operação
Para programar o Axor 3131 8×4 autônomo, a central de operações da Agro Cana Caiana cria em seus computadores as rotas de produção por meio de georreferenciamento, controlando a colhedora e o caminhão no campo via satélite, com alta precisão de centímetros. O caminhão só circula por onde o sistema indica, para evitar o pisoteamento e assim aumentar a produtividade da operação.
A engenharia de vendas da Mercedes-Benz projetou as modificações necessárias do Axor 3131 para a operação da Agro Cana Caiana e integração com o sistema de direção autônoma da Grunner. O veículo é equipado com antenas para o georreferenciamento por GPS, piloto automático integrado ao GPS, monitor da navegação junto ao painel de instrumentos do motorista.
Do ponto de vista mecânico
Do ponto de vista mecânico, além do alongamento das bitolas dianteira e traseira para 3 metros, o caminhão recebeu o segundo eixo direcional na dianteira, tornando-se um canavieiro 8×4, com maior capacidade de carga e mais estabilidade. A suspensão é mista metálica/pneumática na dianteira e traseira, para combinar a robustez do feixe de mola com a estabilidade das bolsas de ar. A suspensão auxiliar pneumática realiza o nivelamento automático do caminhão em lugares com declive, aumentando a estabilidade do veículo e proporcionando mais segurança à operação. Completa o conjunto pneus de alta flutuação, ideais para evitar compactação do solo no canavial, grade de proteção dianteira, protetor de cárter e kit de proteção contra palha no motor, câmbio e caixa de bateria.
*Esta cobertura é oferecida pela Delphi Technologies
O jornalista viajou a convite do pool de imprensa da Anfavea patrocinado por Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen Caminhões e Ônibus, Volvo e ZF