Apresentada ao público brasileiro no estande da Kawasaki no Salão Duas Rodas em novembro de 2017, a Kawasaki Z900 RS desembarcou por aqui apenas no início de julho deste ano, logo após a celebração dos 10 anos de atuação oficial da Kawasaki no Brasil. Esta moto pode ser chamada de clássica, pois ela tem como base uma das motos que marcou época no início dos anos 1970, a Kawasaki Z1.
Para se ter uma ideia, a Z1 foi um dos modelos que fez frente às Honda CB 750 Four, ícones daqueles anos ainda rebeldes e românticos, quando quem usava moto desfilava com aquela joias da engenharia japonesa. E como a onda da releitura dessas clássicas do passado está na moda, a Kawasaki resolveu entrar na festa também e trazer aos tempos modernos sua clássica do passado, mas com boas pitadas de esportividade e um enorme pacote de tecnologia, fazendo da Z900 RS praticamente uma clássica esportiva.
Este estilo de motocicleta povoa o imaginário de muitos motociclistas por unir o charme e a nostalgia com a tecnologia e a eletrônica de última geração. “É como se pudéssemos viajar no tempo, colhendo nossos itens favoritos em diferentes décadas, e uníssemos tudo numa única motocicleta”, escreveu o repórter Guilherme de Souza, do Motonline, quando foi feita a apresentação da moto.
E essa divagação se reflete nas ruas, ao desfilar com a Z900 RS para uma avaliação rápida por ruas e avenidas de São Paulo. “Que moto linda, diferente essa aí, parece que foi restaurada”, foi a afirmação mais curiosa que ouvi ao esperar a abertura de um semáforo. Dessa afirmação do motociclista ao lado me chamou a atenção o “diferente, parece que foi restaurada”. Porque ela revela um fato que é a mistura de elementos que tornam a moto meio híbrida, diferente de fato.
Claro, a maioria dos elementos clássicos estão lá: farol redondo, dois instrumentos redondos no painel, o tanque grande e pintado com requinte em formato de gota, os dois espelhos retrovisores redondos também.
Mas o banco em dois níveis com a rabeta curtinha, a lanterna traseira embutida, as rodas de liga leve e a suspensão traseira com um único amortecedor incluem na moto muitos elementos das naked modernas e tiram da Z900 RS sua conexão com a Z1 histórica.
Uma traseira com o paralama arredondado acompanhando a roda, rodas raiadas e dois amortecedores na suspensão traseira reforçariam a sua identidade clássica. Mas a Z900 RS acabou tornando-se uma moto esporte clássica ou clássica esportiva para quem preferir.
No entanto, essa mistura não significa que a moto ficou feia, até porque a Kawasaki tomou o cuidado de manter inclusive a mesma cor da Z1 de 1972 (Candytone Brown), sem qualquer grafismo especial, um requinte para poucas motos. Contudo, essa nova moto ainda assim carece de uma identidade mais exata.
Kawasaki Z900 RS: motor amansado
A despeito do motor ter ali alguns elementos característicos de motores arrefecidos a ar, coma as aletas para dissipação de calor no cabeçote, a Z900 RS traz um motor moderno, herdado da extinta naked Z900 e que foi amansado para entregar um desempenho também clássico, com mais torque em baixas rotações e menos nervoso nas rotações mais altas.
Ele tem 4 cilindros em linha, duplo comando no cabeçote (DOHC) com 16 válvulas e 948 cm³ que gera 9,7 kgf.m de torque aos 6.500 rpm e 109 cv de potência a 8500 rpm. Para se ter uma ideia, o motor da naked Z900 entregava 124 cv de potência, com torque bem parecido ao da Z900 RS.
E realmente a mudança permite que se use a moto com toda tranquilidade, sem sustos e com força de sobra já nas rotações mais baixas sem a necessidade de girar o acerador, admitindo condução sempre bem comportada.
Numa cidade como São Paulo, onde a velocidade máxima permitida na maioria das vias é 50 km/h, a Z900 RS surpreende e empurra a moto com aceleração mínima mesmo em sexta marcha, com a rotação do motor não passando de 2000 rpm, o que na maioria das motos desse porte não seria possível.
E nessa condição, quando necessário, bastou uma virada no acelerador para a moto dar um salto e chegar rapidamente em velocidades maiores.
Essa característica do motor mais elástico se deve ao trabalho realizado pela engenharia da Kawasaki no cabeçote – nas câmaras de admissão e de exaustão – para encontrar melhor equilíbrio no funcionamento do motor, inclusive com a adoção de um virabrequim mais pesado (com 12% mais massa), o que resultou na redução da taxa da compressão de 11,8:1 para 10,8:1.
Esse ajuste incluiu uma mexida também na caixa de marchas, com as 4 primeiras bem curtas e a quinta e sexta marchas mais alongadas, justamente para não elevar as rotações em viagens a velocidades mais altas. O Câmbio é assistido pela embreagem deslizante, que ajuda nas reduções de marcha em altos giros do motor, evitando o travamento da roda traseira, e reduzindo o esforço aplicado no manete.
A combinação desse motor com menor compressão com o câmbio mais curto resulta em maior economia de combustível. Rodamos 576 km com 25,8 litros de gasolina, média de 22,32 km/litro, o que é uma excelente marca.
Importante destacar que procuramos durante a avaliação não ultrapassar os limites da velocidade regulamentada nas rodovias e sempre mantivemos velocidades moderadas em todas as situações nas ruas, avenidas e rodovias.
Para se ter uma ideia de quão significativa é essa marca, o teste que fizemos na Z800 em 2015 apresentou a média de 16,4 km/litro, uma diferença razoável, mesmo levando em consideração outro piloto e condições diferentes daquele teste em relação a este.
Kawasaki Z900 RS, opinião de quem não tem
Falar do grande prazer que é pilotar esta moto é, para usar um chavão, chover no molhado. Como uma clássica, ela combina a posição de guidão, pedaleiras e banco do piloto de forma perfeita, propiciando a posição mais natural para a maioria dos pilotos de estaturas e portes diferentes.
Mas só isso não seria suficiente para oferecer uma experiência de pilotagem tão boa se não fosse a tecnologia e a eletrônica com seus múltiplos ajustes e controles. Por isso convidamos dois motonliners para experimentarem a nova Kawasaki Z900 RS, já que trata-se de um estilo que desperta diferentes sentimentos, seja pela beleza da moto ou mesmo pela pilotagem equilibrada que a moto permite.
O primeiro deles é o moderador do Fórum Motonline, Alexandre Bandeira – nickname Patriarca – que possui uma Yamaha Crosser de uso diário no seu trabalho de técnico de enfermagem e socorrista. Um pouco assustado após uma volta rápida por ruas e avenidas na região Sul de São Paulo, Patriarca destacou a agilidade da moto e a força de seu motor.
“Eu não tenho o costume de andar com motos mais pesadas e com tanto motor, mas essa me impressiona pela facilidade com que ela obedece os comandos intuitivos do piloto. É certo que o torque desse motor facilita muito essa condução, mas dá pra perceber que essa não é uma moto para se brincar no acelerador porque aí ela já se torna arisca e perigosa, mostrando seu caráter um pouco streetfighter. Definitivamente, é uma moto linda e muito atraente, mas para pilotos experimentados”, opinou Patriarca.
A segunda opinião foi do motonliner Ricardo Kadota – nickname Rock_SP – que usa uma Yamaha Tenerezinha no dia-a-dia e tem também uma BMW F 800 GS com a qual viaja. Rock rodou um pouco mais com a Kawasaki Z900 RS porque aproveitamos sua presença para fazer as fotos da moto em movimento.
Mais acostumado com motos maiores e mais pesadas, achamos que se tivesse um bom vendedor ali na hora do teste, Rock compraria a Z900 RS. “É uma moto apaixonante, não tinha ideia de que era tão fácil de pilotar, tão confortável e com uma posição bem natural. Tenho a impressão de que deve ser tão confortável que me permitiria pilotar por horas sem cansar.
Eu não sei como seria com garupa, mas a moto é muito bonita, ágil e rápida e com esse motor que responde sem sustos e de forma vigorosa é uma fórmula muito bem resolvida”, deslumbrou-se Rock, que pilotou a moto num trecho de rodovia e também num outro pedaço de estrada sinuosa, onde fizemos as fotos.
Z900 RS: eletrônica ajustes e controle
Ao contrário de outras clássicas presentes no nosso mercado, a Z900 RS abusa dos controle e da tecnologia eletrônica, incorporando funcionalidades encontradas apenas nas modernas naked e esportivas. Mas nem só de tecnologia eletrônica vive esta moto.
Sua base é um chassi em treliça muito leve, mas que garante rigidez e concebe as medidas da moto bem compactas, com trail reduzido e concentração das massa mais à frente e abaixo na moto, resultando em agilidade e rapidez nas manobras.
As suspensões definitivamente são de moto esportiva, com garfo invertido na dianteira com tubos de 41 mm de diâmetro e que possui 10 ajustes de compressão e 12 de retorno, e amortecedor único com link na traseira com ajuste de pré-carga de mola. O detalhe da suspensão traseira é que o link está acima do braço oscilante, que contribui para a centralização da massa.
Durante a avaliação experimentamos os dois modos de pilotagem que a Z900 RS possui. Na verdade são três, pois é possível desligar tudo e usar a moto no modo puro, sem controle de tração ou qualquer restrição de aceleração.
Os outros dois modos do KTRC (Controle de Tração) pode ser resumido assim: Modo 1, prioridade para aceleração e performance dentro de limites mínimos de segurança; e Modo 2, prioridade para a segurança e indicado para pisos escorregadios e situações de risco.
A diferença básica é o nível de intervenção que o sistema faz na pilotagem, permitindo mais ou menos ousadia por parte do piloto. Um detalhe discreto, mas importante, é que a moto já vem preparada para receber as malas laterais para uma viagem.
Por fim, o painel de instrumentos é muito bonito e mantém a tradição com dois instrumentos redondos – velocímetro e conta-giros analógicos – com uma tela LCD multifuncional com display negativo (letras brancas em fundo preto).
O display traz o indicador de marcha engatada, hodômetro total, dois parciais e as funções do computador de bordo, com o medidor de combustível, autonomia restante, consumo de combustível instantâneo e médio, além da indicação da temperatura do líquido de arrefecimento, temperatura externa, relógio e indicador de pilotagem econômica.
Ficha técnica Kawasaki Z900 RS |
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Motor |
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Tipo | 4 cilindros DOHC |
Diâmetro x curso | 73,4 mm x 56,0 mm |
Cilindrada | 948 cm³ |
Potência máxima | 80 kW {109 cv} a 8.500 rpm |
Torque máximo | 95 Nm {9,7 kgƒ.m} a 6.500 rpm |
Taxa de compressão | 10,8:1 |
Alimentação | Injeção eletrônica (4x 36 mm) |
Transmissão | 6 velocidades |
Dimensões |
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Comprimento total | 2.100 mm |
Largura total | 865 mm |
Altura total | 1.150 mm |
Distância entreeixos | 1.470 mm |
Altura do solo | 130 mm |
Altura do assento | 800 mm |
Peso (ordem de marcha) | 215 kg |
Capacidade do tanque | 17 litros |
Chassi, freios e suspensões |
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Tipo do chassi | Diamante (treliça tubular de aço) |
Suspensão dianteira | Garfo telescópico upside-down regulável de 41 mm (10 ajustes de compressão, 12 de retorno e pré-carga de mola) |
Suspensão traseira | Monoamortecida com link, |
Curso susp. dianteira | 120 mm |
Curso susp. traseira | 140 mm |
Caster | 25° |
Trail | 98 mm |
Ângulo de esterçamento (esq./dir.) | 35°/35° |
Pneu dianteiro | 120/70ZR17 M/C (58W) |
Pneu traseiro | 180/55ZR17 M/C (73W) |
Freio dianteiro | 2 discos de 300 mm (diâmetro efetivo 267 mm) |
Freio traseiro | 1 disco de 250 mm (diâmetro efetivo 216 mm) |
Preço FIPE (agosto/2018) | R$ 49.483,00 |