Prejudicada pela greve de caminhoneiros que se prolongou por 11 dias em maio, a indústria deve contribuir negativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre do ano. O setor encolheu 2,5% em relação ao primeiro trimestre, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em junho, a produção industrial teve alta recorde de 13,1% em relação a maio, resultado mais do que suficiente para se recuperar do tombo de 11% registrado no mês anterior, quando os bloqueios de estradas prejudicaram o transporte de cargas. O bom desempenho do mês, porém, não foi suficiente para um trimestre no azul. A queda fez alguns analistas considerarem a possibilidade de o PIB do período também ficar negativo.
“Pode ficar mais perto de zero, mas não dá para descartar queda”, avaliou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz. “A recuperação (da indústria) ainda é muito gradual. Alguns indicadores de julho não só da indústria, mas do comércio e de serviços têm mostrado alta modesta”, completou.
Em junho, todas as categorias de uso da indústria tiveram o maior avanço da série histórica, iniciada em 2002. Nove das 26 atividades pesquisadas obtiveram crescimento recorde em relação a maio, com destaque para a fabricação de alimentos e bebidas, mas foi o salto de 47,1% no setor de veículos que mais impulsionou a média global.
Para André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, o resultado positivo de junho precisa ser visto com cautela. Os níveis de confiança de consumidores e empresários ainda baixos e o cenário de incertezas elevadas, por conta também de indefinições eleitorais, trazem ressalvas. Para ele, a indústria tem sido beneficiada pelo avanço das exportações e alguma melhora do mercado doméstico, mas ainda é necessário que o mercado de trabalho reduza o número de desempregados no País.
“Claro que a situação já foi pior, mas tem um caminho importante a ser percorrido para que recupere as perdas do passado. Existe melhora (na produção industrial), mas ainda está abaixo do patamar registrado no final do ano passado. É como se, passados seis meses, a produção ainda estivesse ali no mesmo patamar do fim de 2017”, ilustrou Macedo.
Recuperação da indústria é gradual
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a recuperação ainda é gradual, com perda de dinamismo em 2018. O quadro é preocupante, porque uma aceleração na produção se faz necessária para superar o estrago provocado pela crise e também para potencializar a contribuição da indústria no ritmo de recuperação, explicou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.
“Se a indústria não ganha velocidade, o resto da economia também não ganha velocidade. A indústria é o setor que estabelece o maior número de relações com outros setores, como a agropecuária, os serviços. Se ela não cresce, isso acaba reduzindo a possibilidade de uma aceleração do PIB como um todo”, concluiu Cagnin. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)