Pedro Nelson Belmiro
Pedro Nelson A. Belmiro é Coordenador da Comissão de Lubrificantes do IBP, Co-autor do livro Lubrificantes e Lubrificação Industrial e Editor da revista lubes em Foco.
O mercado brasileiro de óleos básicos lubrificantes merece um estudo detalhado não somente quanto a abastecimento, mas também quanto às mudanças de qualidade.
O Brasil chegou à situação crítica, que obriga a uma definição de estratégia de abastecimento para o país. Seremos sempre importadores, ou ainda vale a pena investir em novas refinarias e infraestrutura de transporte e armazenamento? Essa discussão já está adiantada no âmbito do governo, pelo valor estratégico do abastecimento de combustíveis. Mas e os lubrificantes? Qual é a sua importância nos programas atuais?
A possível retomada do mercado
O mercado brasileiro de lubrificantes fechou o ano de 2017 praticamente estável, interrompendo uma trajetória de queda, iniciada em 2014, e que já acumulava cerca de 16%. Os sinais positivos da Economia, com reflexo no desempenho do PIB brasileiro, foram as principais causas do pequeno fôlego que fez com que o mercado de lubrificantes conseguisse se sustentar no mesmo patamar do ano anterior.
A indústria automobilística, como sempre, funcionou como o grande motor do mercado, e os crescimentos de produção, em torno dos 25%, e de vendas, em cerca de 9%, tiveram papel primordial no desempenho dos lubrificantes, e se não houvesse a expressiva perda de volume do mês de dezembro, certamente o ano de 2017 seria caracterizado pela retomada do crescimento no segmento de lubrificantes.
Com a volta de uma trajetória positiva e considerando que nossas refinarias e nossa indústria de rerrefino só conseguem colocar à disposição do mercado cerca de 66% de suas necessidades, já trabalhando em um limite de capacidade considerável, podemos antever que o processo de importação de óleos básicos será cada vez mais expressivo no Brasil.
Além disso, a tendência irreversível do uso de óleos lubrificantes de motor com viscosidades menores e qualidade maior dificulta, ou mesmo impossibilita, a utilização dos óleos básicos produzidos nas refinarias existentes no país.
Junte-se a isso o fato de vários países terem se preparado com antecedência para o quadro atual e investido em aumento da capacidade de produção de básicos dos grupos II e III, fazendo com que a oferta mundial desses produtos pressione os preços para baixo.
A definição de uma estratégia de abastecimento de óleos básicos
Chegamos à situação crítica, que nos obriga a uma definição de estratégia de abastecimento para o país. Seremos sempre importadores, ou ainda vale a pena investir em novas refinarias e infraestrutura de transporte e armazenamento?
Para os combustíveis, as definições são bem mais críticas e estratégicas, e é preciso considerar o risco de desabastecimento que pode parar o país. Por isso, o governo tem se mobilizado, estruturando programas importantes como o Combustível Brasil e o RenovaBio, e também consultando os principais agentes econômicos do mercado para um debate amplo sobre a situação.
Estariam as autoridades competentes dando a devida importância ao segmento de óleos básicos lubrificantes? Estariam os possíveis projetos de construção de novas unidades de refino levando considerando a existência de unidades de hidrotratamento, próprias para a produção de básicos dos grupos II e III?
São questões que precisam ser tratadas no âmbito desses programas de governo, que nos parecem bem estruturados e alinhados com as exigências ambientais e de mercado, mas que precisam dar a importância devida ao segmento de lubrificantes e colocá-lo acima de um simples nicho com peculiaridades tributárias.
Os lubrificantes precisam de voz ativa
O mercado de lubrificantes precisa que aqueles que estão representando esse segmento junto às autoridades estejam muito atentos ao desenrolar dos programas de governo e, ao mesmo tempo, acompanhar o desenvolvimento do mercado internacional de óleos básicos, para situar o nosso mercado em um bom posicionamento.
Seremos importadores de óleos básicos ainda por um bom tempo, mesmo que o país decida construir refinarias, e isso não é necessariamente ruim, uma vez que as capacidades globais estão em um patamar de oferta que coloca os preços de produtos nobres bastante convidativos, e o tempo e o custo de construção das unidades produtoras são bem elevados.
Não temos os mesmos problemas de infraestrutura de transporte e armazenamento que o segmento de combustíveis apresenta, e podemos conviver bem com o mercado externo, sempre torcendo para que não haja nenhum furacão, ou outro evento drástico que possa interromper o fluxo de básicos para o Brasil.
Os lubrificantes fazem parte de uma discussão que precisa entrar com determinação no âmbito dos programas de governo, que com certeza está aberto a isso, e a voz do mercado de lubrificantes precisa ecoar em todos os níveis de estudos e estratégias para o país.