Fábrica de automóveis em Iracemápolis
O presidente mundial da Mercedes-Benz, Dieter Zetsche, disse ontem ao Valor que não há planos de fechar a fábrica de automóveis em Iracemápolis, no interior de São Paulo, a despeito das indefinições em torno da continuidade da política de incentivos para fábricas de carros de luxo no Brasil, que perduraram no cinco últimos anos, durante a vigência do programa Inovar-Auto.
Segundo Dieter, que também preside o conselho do grupo Daimler, ao qual a Mercedes pertence, diz que as condições econômicas mudam em todo o mundo de tempos em tempos. “E temos que nos ajustar a elas e fazer o melhor”, destacou.
Condições econômicas do Brasil
“Naturalmente essa fábrica desenvolveu menos do que planejávamos. Mas isso tem menos a ver com a questão tributária do que com as condições econômicas do Brasil”, destacou o executivo alemão, que está em Detroit para a apresentação do salão do automóvel à imprensa.
Bem-humorado, Zetsche lembrou que a Mercedes já desistiu uma vez de fabricar automóveis no Brasil. Ele referiu-se ao projeto do modelo Classe A, produzido em Juiz de Fora (MG), entre 1999 e 2003. “Como você sabe nós já temos uma história de entrar e sair da produção de automóveis no Brasil. Não podemos ter mais um plano de desistir outra vez.”
A unidade de Iracemápolis
Num investimento de R$ 600 milhões, a unidade de Iracemápolis foi inaugurada em março de 2016 para atender às exigências do Inovar-Auto, que penalizava, com tributação extra, veículos importados fora do Mercosul. Ali são produzidos o sedã Classe C e o utilitário GLA. Os dois modelos representam 50% das vendas de automóveis da Mercedes no Brasil.
Com o fim do programa e indefinições de novas regras, os dirigentes da indústria no Brasil argumentam que agora fica mais barato importar do que produzir no país. Durante a vigência do Inovar-Auto, os automóveis importados de países fora do Mercosul ou de regiões que têm acordo de intercâmbio de cotas, como o México , foram taxados com adicional de 30 pontos percentuais no Imposto de Produtos Industrializados, que passou a ser chamado na indústria de “super IPI”.
Fábricas de modelos de luxo
Além da Mercedes, a também alemã BMW e a inglesa Land Rover construíram fábricas de modelos de luxo no Brasil. A BMW investiu R$ 600 milhões numa unidade localizada em Araquari (SC), inaugurada em 2014. A Land Rover escolheu Itatiaia (RJ) para construir uma fábrica, cujo projeto absorveu investimentos de R$ 750 milhões.
Às vésperas do fim do Inovar-Auto, em dezembro, a equipe econômica recebeu, em Brasília, várias visitas de executivos do setor, preocupados com o fim dos incentivos para as linhas de modelos de luxo. Havia a expectativa de que o novo programa automotivo, o Rota 2030, que está prestes a ser anunciado, poderia incluir benefícios para essas fábricas.
Incentivos à indústria automobilística
Como a equipe do Ministério da Fazenda resiste à ideia de conceder incentivos à indústria automobilística esse tipo de benefício sequer entrou nas negociações que ainda não foram concluídas. Os dirigentes das montadoras continuam frustrados com a indefinição que cerca o Rota 2030, apesar de terem recebido do presidente Michel Temer indicações de que o programa será anunciado após a votação da reforma da previdência.