Apesar do cenário de demanda e preços se mostrar positivo para a Petrobras, o mercado está cauteloso diante das incertezas acerca da plena recuperação da saúde financeira da companhia.
Segundo analistas consultados pelo DCI, a demanda global de petróleo deve apresentar um crescimento moderado, porém estável, no médio e longo prazo. Adicionalmente, a oferta tende a se manter controlada. Esta combinação favorece a Petrobras, que está elevando de forma constante a produção.
“O ritmo de expansão da demanda global é bom e a oferta vem crescendo em linha, o que é bastante conveniente para a indústria petrolífera”, avalia o analista de petróleo da Tendências Consultoria, Walter de Vitto.
No entanto, o mercado ainda demonstra preocupação acerca da governança da companhia, que nos últimos dois anos tem tentado mostrar ao investidor que não tem ingerência por parte de seu controlador.
O sócio e diretor da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, acredita que a autonomia demonstrada pela diretoria da Petrobras em relação ao controlador é positiva. “No cenário atual, há uma grande chance de recuperação consistente da empresa.”
Contudo, ele alerta para as eleições em 2018, que podem trazer a mudança do controlador da estatal.
“A imagem de independência que a Petrobras está tentando passar pode se desfazer dependendo do governo que entrar”, explica analista.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, pondera que o balanço financeiro da Petrobras no terceiro trimestre veio muito abaixo do esperado pelo mercado, o que pode comprometer a confiança do investidor. “No curto prazo, o impacto foi muito ruim. A companhia precisa mostrar alternativas para garantir a perenidade do seu negócio.”
No terceiro trimestre, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 266 milhões, revertendo prejuízo de R$ 16,4 bilhões de um ano antes. “Apesar de justificar efeitos não recorrentes, a companhia precisa cortar ainda mais custos e melhorar as margens”, pontua Silveira.
Marcatti aponta para a necessidade urgente da petroleira investir no refino para garantir menor dependência da importação de derivados no médio e longo prazo. “Se a atividade econômica apresentar retomada no ano que vem, como se espera que tenha, o consumo de combustível vai aumentar no Brasil e, consequentemente, a importação da Petrobras vai crescer”, assinala Marcatti. “As margens da empresa vão ficar mais pressionadas do que já estão”, complementa o analista.
Segundo balanço da companhia, a margem bruta – que mede a rentabilidade sobre as vendas – vem caindo desde o terceiro trimestre de 2016, quando estava em 33%. De abril a junho deste ano, atingiu 32% e, de julho a setembro, alcançou 30%, mesmo com a nova política de preços.
“O que a Petrobras necessita é uma constante melhoria operacional e um controle rígido do endividamento”, destaca o sócio da Mesa Corporate.
Ele reforça, entretanto, que o resultado abaixo do esperado no terceiro trimestre se deve a efeitos não recorrentes. “O desempenho operacional da Petrobras foi positivo e os sinais indicam que, para o próximo trimestre, o resultado da companhia também deve ser favorável”, acrescenta.
Cenário de preços
O analista da Tendências afirma que a alta de preços do Brent nas últimas semanas não deve se sustentar. Segundo ele, aumentos pontuais da demanda puxaram as cotações do barril para cima.
“O preço vinha mantendo um ritmo de crescimento moderado desde o final do ano passado. O que quebrou essa série foi um avanço particular no segundo trimestre deste ano, que não deve persistir”, comenta De Vitto.
Para este ano, a Tendências projeta cotação média do Brent de US$ 53,8, ante US$ 44 em 2016. Para 2018, o preço médio do barril deve ficar em torno de US$ 56,8.