Perspectivas econômicas atraem Montadoras coreanas

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Penalidade aos modelos estrangeiros

As empresas que exportam automóveis para o Brasil estão em contagem regressiva para a chegada do Ano Novo. No último dia de 2017 terminará a cobrança de 30 pontos percentuais adicionais no IPI para veículos produzidos fora do Mercosul. A penalidade aos modelos estrangeiros foi uma das marcas do Inovar-Auto, programa governamental lançado em 2012, e motivou a condenação dessa prática pela Organização Mundial do Comércio. O fim do programa não é, entretanto, o único motivo para coreana SsangYong, que deixou o mercado brasileiro em 2015, ter decido voltar a vender seus veículos no país. “Percebemos que o governo do Brasil, seja quem for o presidente da República, tende a adotar medidas que favorecem uma economia de mercado”, disse ontem Jong Dae Lee, diretor de exportação da montadora.

Estabilidade no câmbio

A estabilidade no câmbio, afirmou o executivo, é um dos fatores que “consolidam uma política econômica no Brasil”. Ele lembrou que em 2011, o melhor ano para a marca no Brasil, foram vendidos 7 mil veículos. É mais do que o dobro do volume previsto para 2018. Lee disse que aquele momento trazia a expectativa de períodos promissores no mercado brasileiro. Com o dólar oscilando entre R$ 1,80 a R$ 2,20, o executivo teve a sensação, naquele momento, de que a importação de carros passava por “uma época especial”. “Mas logo depois houve uma mudança para pior. O câmbio chegou a R$ 4,30. E, em seguida veio o Inovar-Auto, que trouxe o aumento do imposto”, destacou Lee.

“Ficou difícil sustentar a operação como opção de negócio”, disse Lee, que mora na Coreia do Sul mas mostra um conhecimento de conjuntura brasileira raro entre executivos que normalmente visitam o país por pouco tempo. Para ele, mesmo com a perspectiva do fim do Inovar-Auto ainda existe no Brasil grande estímulo para a produção local. Por isso, ele não refuta a ideia de instalar uma fábrica no país. Mas trata-se de uma análise a ser feita no longo prazo.

SsangYong

Essa será a terceira vez que a SsangYong instala uma rede de vendas de sua linha no Brasil. A primeira, logo depois da abertura do mercado brasileiro, foi entre 1995 e 1998. Depois disso, a empresa coreana voltou a exportar para o Brasil por um período bem mais longo, de 2001 a 2015. O vaivém da marca com nome difícil de escrever e que, na tradução para o coreano significa “dragões gêmeos”, tem a ver, em parte, com os altos e baixos da economia e das regras de comercialização de importados no país. Por isso, um dos principais desafios será resgatar a confiança do consumidor.

O comentário de um leitor sobre a nota que o site do Valor publicou ontem a respeito da volta da marca coreana ao Brasil revela essa desconfiança. “Essas empresas são irresponsáveis por vender seus produtos e depois deixar o consumidor na mão. Elas simplesmente desaparecem e quando você precisa de peças para reposição, adeus!”, disse o leitor.

Acolher antigos consumidores

A SsangYong sabe disso. Por isso, preparou-se para, antes mesmo de lançar novos veículos, acolher antigos consumidores e até oferecer garantia adicional aos que ficaram na mão na última vez em que suas concessionárias foram fechadas. O acordo com o novo impor-

“Governo brasileiro tende a adotar medidas que favorecem uma economia de mercado”, afirma Jong Dae Lee, o grupo JLJ, prevê a disponibilidade de peças, inclusive para modelos que saíram de linha.

Desde o início do ano, o importador prepara um estoque no centro de distribuição em Salto (SP), sede da JLJ, e começou também a nomear oficinas de reparo e manutenção. Desde a primeira experiência no Brasil, a SsangYong vendeu 17 mil veículos no Brasil. “Esses 17 mil clientes são agora responsabilidade nossa”, afirmou o diretor de operações SsangYong Brasil, Marcelo Fevereiro. Segundo ele, nesse período os clientes tinham que recorrer ao mercado paralelo e alguns chegaram até a cruzar a fronteira em busca de peças.

Chile é o maior mercado da América Latina para a SsangYong

Com 7 mil veículos vendidos em 2016, o Chile representa o maior mercado da América Latina para a SsangYong. Para a Europa, o maior mercado fora da Coreia, seguiram 24 mil. Mais de um terço da produção na Coreia é vendida a outros países. Fundada em 1954, a SsangYong é uma montadora pequena. Planeja produzir este ano 170 mil veículos para distribuir em todo o mundo. O volume equivale a menos de 1% do que alcançam os maiores produtores. A empresa trabalha num nicho de mercado, de picapes e utilitários de luxo.

Os preços dos quatro modelos que serão lançados no Brasil ainda são mantidos em segredo. Dos 50 concessionários que serão nomeados até o fim de 2018, 16 são remanescentes das passagens anteriores da marca no Brasil.

Lee entusiasma-se com o crescimento do segmento de utilitários esportivos no Brasil, menos afetados pela crise, mas preocupa-se em resgatar imagem. Antes de terminar sua apresentação da reestreia no país, pediu desculpas aos consumidores que se sentiram lesados por terem sido abandonados. E garantiu que agora a marca vem para ficar por um longo tempo.