Revista Lubes em Foco edição 93
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Desenvolver produtos sustentáveis com melhor performance e eficiência. Estas são algumas das metas do mercado de lubrificantes industriais que foram apresentadas durante o 4º Encontro Internacional com o Mercado de Lubrificantes, promovido pela Editora Onze, nos dias 29 e 30 de outubro de 2024, em São Paulo.
No entanto, é preciso ficar atento aos cenários que envolvem este mercado. O alerta é do correspondente para a América Latina do I.C.I.S, Jonathan López. O jornalista comenta a oscilação dos preços do petróleo e a escalada do conflito armado no Oriente Médio, como uma sombra sobre o quarto trimestre de 2025.
Em 2024 o consumo global de óleos básicos chegou a 45 milhões de litros, sendo 2,6 bilhões na América do Sul, com o Brasil respondendo por 1,5 bilhão. Segundo o jornalista,
Comparando os mercados, o México aparece com demanda geral fraca, enquanto o Brasil registrou variação de preços em torno de -4,5% (novembro/outubro). Neutro Leve -6%; Neutro Médio –3% e Neutro Pesado -5%. Na Argentina a demanda foi duramente impactada em função da recessão.
A produção russa continua entrando na América Latina através de países “terceiros” como a Turquia ou os Emirados Árabes Unidos, especialmente Dubai. Além da guerra, as questões climáticas também surgem como preocupação, uma vez que várias rotas sofrem com a seca.
Pensando o mercado de óleos básicos para os próximos 30 anos, López lembra a mudança de foco das montadoras para os carros elétricos, principalmente diante dos investimentos da América do Norte e Europa na transição energética. Ao mesmo tempo o jornalista cita as sanções contra os veículos eléticos chineses, que levam a crer que a evolução do setor somente será positiva se não houver avanço do produto chinês.
O aumento da eletrificação e das discussões sobre sustentabilidade e transição energética levam a crer que a solução sustentável para a descarbonização da cadeia de lubrificantes passa pelo óleo básico rerrefinado.

Quem defende essa tese é a executiva de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Lwart Soluções Ambientais, Aylla Kipper. Ela lembra que o processo de rerrefino no Brasil é um case de sucesso mundial.
“Na Lwart com um barril de óleo lubrificante usado a gente consegue 75% de óleo básico mineral. Todo o processo é circular. O óleo rerrefinado tem ate 80% menos emissões.” Ela explica que desde 2005 o índice de coleta é crescente, sendo coletado 48% de todo óleo lubrificante colocado no mercado.
Outra maneira de garantir sustentabilidade aos produtos é aumentar a vida útil dos lubrificantes, principalmente na área industrial. Para tanto, Alexandre Araújo, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Cargill Bioindustriais, explicou como a aplição de epóxidos pode melhorar a estabilidade oxidativa e hidrolítica de lubrificantes.
Ele diz que a principal aplicação visada pela empresa era em altas temperaturas e com risco de contaminação com água, tendo por objetivo neutralizar essas oscilações indesejadas no processo e consequentemente aumentar a vida útil dos produtos, tanto de base ésteres, quanto vegetal.
Foram trabalhadas duas linhas: epóxidos de linhas lineares, base oleofinos e os epóxidos ramificados, base carboxilados. “O ramificado vai oxidar muito menos que o linear que vai trabalhar em temperaturas mais baixas, então você aumenta a gama de aplicações”, explica.
Desta forma eles transformaram um éster simples, com nível de aditivação baixo, em um éster com qualidade de um produto top de linha. “Uma simples aditivação os níveis de hidrólise deles continuaram praticamente os mesmos. No insaturado tivemos um ganho de 75% de acidez, e nada mudou em questão de oxidação. Éster saturado ficou ainda melhor, e transformamos um incremento de 73% na estabilidade oxidativa. Para o linear nada mudou.”
Concluindo, Araújo destaca que os epóxidos são uma excelente alternativa para formuladores de lubrificantes em nivel de dosagem baixa, com ganho em vida útil, sustentabilidade do lubrificante e ganho de performance.
O gerente de Serviços Técnicos da EVONIK, Ricardo Gomes, falou sobre como os lubrificantes de alto índice de viscosidade impactam na eficiência dos equipamentos. Embora na América de Sul ainda seja alto o consumo de óleo hidráulico com grau de viscosidade 68, ele diz que o de grau 46 já começa a tomar esse espaço.
Gomes ressalta que o coração do equipamento hidráulico é o sistema onde ele transmite potência. “A eficiência do equipamento é denominada pela eficiência volumétrica. Quanto menos perda dessa eficiência, maior potência vai ser transmitida para o equipamento.”
Logo, acima de 40ºC, a viscosidade do fluído é maior que o relacionado ao monoviscoso. Essa diferença amplia a janela de operação do equipamento. O aumento da viscosidade permite uma selagem dentro da bomba que reduz o vazamento interno entregando maior potência.
Se você tiver uma viscosidade menor em baixas temperaturas, em que necessita de um equipamento que tenha maior demanda, um fluído sendo transferido em altas velocidades, com menor viscosidade vai oferecer menos resistência ao atrito e consequentemente, menor perda mecânica.
“Então, esse fluído de alto índice de viscosidade, tanto oferece ganhos de eficiência mecânica, quanto volumétrica. Vimos que a 100ºC, a viscosidade do fluído 32 é a mesma do monoviscoso 46. Essa mesma viscosidade vai permitir que você tenha fluído suficiente para manter a lubrificação em altas temperaturas, protegendo contra o desgaste. Em baixas temperaturas, a viscosidade será menor, contribuindo para uma melhor eficiência mecânica, reduzindo o atrito.”
Os emulsionantes representam um terço de todos os aditivos para remoção de metal. Segundo o especialista Técnico em Graxas para América Latina da LUBRIZOL, Ryan Weber, no entanto, escolher o sistema emulsionante certo é fundamental e ele deve equilibrar desempenho e custo.
Weber apresentou o PIBSA, desenvolvido pela empresa e utilizado como dispersantes que ajudam a manter os motores limpos, reduzindo a formação de depósitos e a aglomeração de fuligem.
Ele diz que o PIBSA tem desempenho de longa duração na comparação com o sulfonato de sódio, além de ser mais barato. “Com o sulfonato pode haver variabilidade na consistência, o PIBSA é uniforme e utiliza-se menos para a mesma estabilização na comparação com o sulfonato.”
Na proteção à corrosão o sulfonato é muito bom e o PIBSA nem tanto. É preciso neutralizar com base, ao contrário do sulfonato. No tratamento de resíduos, ambos são parecidos, conclui o especialista.
A formação de verniz é uma verdade irrefutável. Quem alerta é a pesquisadora da ICONIC Lubrificantes, Vanessa Siqueira Manhães. Ela lembra que ele surge da degradação do óleo lubrificante. Inicialmente eles são solúveis e aos poucos vão se tornando insolúveis. Esses compostos que contaminam o óleo passam a se depositar na superfície metálica do equipamento formando o verniz.
Em função disto a viscosidade do óleo aumenta pois não é possível realizar a troca térmica e o óleo não consegue mais lubrificar e vai se oxidando. Os principais danos que esse óleo pode causar são a perda da eficiência, a lubrificação insuficiente e as consequentes falhas nos componentes do equipamento que podem causar parada inesperada e aumento do custo operacional.
Para solucionar o problema a ICONIC desenvolveu o Vartech, com tripla ação, cuja tecnologia atua na limpeza e remoção do verniz. É importante ressaltar que não há necessidade de parar o equipamento para adicionar o produto e fazer a limpeza.
Ele corta o verniz mais duro em micropartículas de verniz macias e vai capturando e estabilizando essas micropartículas em uma barreira protetora para permitir a remoção eficaz do verniz do sistema, sem que ele se redeposite no equipamento.
Ainda na pegada sustentável, a coordenadora de Vendas & Desenvolvimento Técnico da UNIVAR, Flávia Silva, abordou a questão dos biocidas como soluções sustentávies para a indústria de metalworking.
Ela ressalta que eles vem ganhando destaque e que embora sejam apenas uma pequena parte do sistema de preservação, garantem qualidade.
Vários fatores podem contaminar os fluídos de corte, até mesmo a água utilizada para diluir o produto. Ela ressalta o uso de fungicidas e bactericidas da ARXADA para controlar esse microorganismos.
A parceria das duas empresas também deu origem a um Programa Global que possibilita a visita às fábricas para entender o processo de cada sistema, e verificar onde pode existir uma contaminação. No pós-visita é feita uma análise em laboratório para entender qualitativamente o que foi encontrado, qual bactéria está lá, e finalmente emitir um relatório, uma recomendação do que fazer.

Os lubrificantes hidráulicos representam 48% do mercado brasileiro, que em 2023 consumiu 270KT*, comenta Flavio Deminicis, gerente de Contas da AFTON Chemical. Por sua vez, dentro deste universo, o segmento de fluído hidráulico isento de zinco vem ganhando relevância sendo demandado por aplicações ambientalmente sensíveis e por desempenho superior.
A participação do produto no mercado global é de aproximadamente 15%, sendo que o maior volume é consumido na Europa, por conta das questões ambientais, seguido pela Asia e América do Norte. No Brasil a demanda ainda é pequena.
Na comparação com o produto tradicional, pode-se dizer que os fluídos isentos de zinco oferecem desempenho superior, com maior confiabilidade do equipamento e, ao mesmo tempo, proporcionam menor impacto ambiental em comparação aos equivalentes à base de zinco.
Um pacote de aditivos isento de zinco pode alcançar uma pegada de carbono 3% menor que um pacote convencional. Seu uso permite controle de oxidação superior, garantindo que o equipamento hidráulico possa operar mesmo nos ciclos e condições mais extremos, estendendo sua vida útil.
A corrosão, um inimigo silencioso foi o tema de encerramento do primeiro dia do evento, compartilhado entre a gerente de Contas/Produtos do IMCD, Paula Patrão e o gerente de Negócios do Segmento Industrial para América Latina da Lubrizol, Roberto Saruls.
Paula começou lembrando que estudos da Organização Mundial de Corrosão apontam que os custos com corrosão dentro do mercado de metalworking chegam a US$ 2,2 trilhões. Diante disto, fica evidente a importância do combate a esse inimigo íntimo do setor.
Segundo ela, este é um mercado que exige demandas específicas, como maior tempo de armazenamento, variedade de ligas metálicas e maior complexidade para os passivadores de corrente, sem contar nas questões climáticas.
Ela detalhou os pacotes base cálcio e bário, com três tipos de aditivação com diluentes diferentes. “Se você diminuir a aditivação terá uma queda na resistência desse filme, que é bem fino.” Em relação ao produto de cálcio, a maior adição de mineral gera um filme mais grosso, mais difícil de ser removido das peças na hora da limpeza, depois de protegê-las.”
Quando se trata de protetivos voltados para aplicações outdoor a necessidade é de uma proteção a longo prazo, pois são peças que estarão expostas a diversas intempéries, logo é preciso que a película seja espessa, com recursos de desempenho para uma proteção a corrosão por anos, em que a resistência UV pode ser importante.
No entanto, segundo Saruls, graças a uma tecnologia muito inovadora, a Lubrizol desenvolveu uma cera polimérica que deverá trazer “enormes benefícios para as aplicações dos clientes.” São pacotes que diluídos em solvente ficam com um aspecto transparente, enquanto os produtos tradicionais apresentam um aspecto escuro.
A vantagem da nova tecnologia é poder usar a mistura em solvente, em óleo básico naftênico e parafínico grupo II. “Ele ainda permite ao formulador criar seu próprio produto, combinando esse pacote com sulfato de cálcio, ácido graxo ou o que achar mais interessante. Uma tecnologia que não está amarrada, você pode flexibilizar”, explica.
A orientação tradicional é utilizar 60% de solvente, mas se for misturar com outros componentes é possível usar 30% e os outros 70% de acordo com a finalidade ou criatividade do formulador.