Caminhões autônomos
Caminhões autônomos – Lá atrás, em 1955, a Mercedes-Benz redefiniu a matriz energética dos caminhões no Brasil ao começar a produção local de motores diesel. Agora, mais de seis décadas de estrada depois, a companhia que dar impulso a outra revolução: a do transporte eficiente e sustentável. Para isso, lança mão de veículos equipados com direção autônoma e aposta em um futuro eletrificado, com mas sem esquecer dos biocombustíveis brasileiros.
Este texto integra a cobertura especial dos 65 anos da primeira fábrica da Mercedes-Benz no Brasil
Uma sinalização clara desse movimento foi dada em 2017, quando a organização anunciava investimento de mais de R$ 2 bilhões na modernização de suas duas fábricas instaladas no país, em São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG). Naquele momento, mais do que preparar suas linhas para produzir novos veículos — como o pesado Actros, seu primeiro filho nascido dentro do contexto de indústria 4.0 –, a montadora iniciava ali uma nova jornada e dobrava a aposta em um futuro mais sustentável e tecnológico para o setor de transportes no Brasil.
“A demanda também envolve custo, como em toda operação, mas tem origem principalmente em novas políticas ambientais adotadas pelas cidades e pelos clientes dos embarcadores”, complementa. Quando se fala em custo e sustentabilidade no universo dos caminhões, se fala basicamente de powertrain. É sobre o conjunto propulsor que a equipe de desenvolvimento da empresa se debruça no momento pensando nas aplicações atuais e nas futuras.
Começando pelas requisições do momento, a Mercedes-Benz vem trabalhando na oferta de veículos equipados com motores Euro 6 para o mercado brasileiro, considerando a chegada das obrigações estipuladas pela fase P8 do Proconve – programa de controle de emissões veiculares.
“Hoje a nossa grande meta de curto prazo é o lançamento do portfólio Euro 6. É o que está no topo das prioridades. Imagina realizar os processos de engenharia, de testes nos veículos e em pista, durante a pandemia. Foi um grande desafio para nós pela questão dos protocolos de distanciamento, de reunir a equipe”, conta Spinelli. |
Ele complementa: “Tivemos de interromper o processo e retomamos recentemente, já com o cronograma apertado”, contou, que está na empresa há 25 anos e regressou há pouco da operação alemã da companhia.
Caminhões autônomos – Propulsão reinventada
Para se adequar ao Proconve P8, os fabricantes de caminhões e ônibus do Brasil obrigatoriamente terão que adotar motorização com sistemas de pós-tratamento Euro 6 a partir de 2023. Afora os testes em caminhões, no ano passado começaram também os primeiros experimentos locais envolvendo chassis de ônibus equipados com este tipo de motorização que a montadora já fornece no exterior.
Olhando pra frente, a área de desenvolvimento da companhia já estuda novas aplicações de combustíveis, como aquelas que envolvem o HVO, chamado também de diesel verde, as que envolvem biogás e, ainda de forma embrionária, o hidrogênio.
“Essas são as próximas prioridades, sempre pensando que o cliente terá uma pressão maior em termos de custos e de emissões. Estamos envolvidos em uma série de projetos que envolvem estes novos combustíveis, mas o avanço deles nas estradas dependem também de políticas públicas de infraestrutura”, comenta o diretor da Mercedes-Benz.
Revolução elétrica e autônoma
Eletrificação também é um tema relevante dentro da engenharia brasileira da montadora, que atua de forma integrada com a equipe sediada na Alemanha. O desenvolvimento de powertrain elétrico, no entanto, segue no Brasil a um ritmo diferente daquele imprimido pela montadora nos seus principais mercados, como é o caso do europeu e do asiático.
“A nossa caminhada no país será um pouco mais lenta do que na Europa. Aqui temos os biocombustíveis como uma alternativa interessante de transição rumo à emissão zero”, diz. E complementa:
Veículos autônomos também estão na pauta da área de desenvolvimento da Mercedes-Benz e já existem algumas atividades em curso envolvendo projetos-piloto, segundo o diretor: “Temos uma equipe que passa muito tempo falando com parceiros que fornecem sistemas automatizados. Nossa ambição é ter um veículo autônomo que opera em lugares privados, como na operação do agronegócio, por exemplo”.
Ele se refere ao caminhão autônomo Axor 3131, desenvolvido em parceria com a Grunner para realizar atividades no transbordo de colheita de cana por meio de uma tecnologia baseada em localização via GPS. Na operação, o veículo percorre trechos da plantação ladeado por uma colheitadeira, que recolhe a cana e despeja a cana picada no implemento do caminhão, que tem capacidade de carga em torno de 20 toneladas.
Spinelli entende, no entanto, que essa revolução não deve se restringir ao universo agrícola: “O mercado está passando por uma transformação com o crescimento das compras pela internet, as mudanças no varejo e no transporte em geral”, lembra.
“Temos a missão de segmentar a oferta, de oferecer soluções sob medida para cada setor e necessidade”, diz, apontando para um desafio dos próximos anos. |
O impulso do ESG
As três letras do ESG carregam um significado grande. Traduzida do inglês para o português, a sigla trata de como uma empresa lida com as questões meio ambiente, sustentabilidade e governança corporativa. Representam, também, como empresas de transporte de cargas e de passageiros vão gerir com suas frotas para atenderem às demandas dessa nova métrica empresarial, já que o ESG passa a entrar na conta da competitividade e da estratégia para atrair investimentos e clientes.
Para Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz, o movimento ganha força no país e já representa um importante impulso de venda de caminhões que proporcionam menor impacto ambiental em suas aplicações, ainda que em menores volumes por enquanto:
“Existe uma demanda agora em função do ESG de alguns embarcadores internacionais. Isso é um movimento que vai virar 80% do mercado? Acredito que não. Mas, de qualquer maneira, cria uma pressão para que se estimule o surgimento de algumas alternativas. No Brasil, diferentemente do que ocorre na Europa, sem tem pouco incentivo nesse sentido de adoção de novas tecnologias, tanto para quem compra quanto para quem fabrica”, explicou o executivo.
“A gente precisa olhar para o hemisfério Norte, mas temos no país opções interessantes de redução de emissões como é o caso do etanol, do HVO, que já reduzem o nível de emissão dos veículos sem que se faça muitas alterações nos veículos”, finalizou.