Evolução tecnológica veicular
O tema central do quarto dia de lives do #ABX20 – Automotive Business Experience foi “Novas Tecnologias e Sociedade 5.0”. No debate sobre a acelerada evolução tecnológica dos veículos, executivos de três grandes fabricantes globais, Volvo Trucks, Volvo Car e CNH Industrial, traçaram um panorama sobre automação, eletrificação e conectividade.
No painel “Automação e eletrificação: A tecnologia no contexto reinventado”, Alan Holzmann, diretor de estratégia de produtos da Volvo Trucks Latin America, e João de Oliveira, diretor de operações e inovação da Volvo Cars Brasil, abordaram o quanto as duas companhias que carregam a mesma marca sueca estão engajadas em avanços significativos nesse contexto.
“Em automóveis estamos focando na expansão dos híbridos e assim será por um bom tempo até atingirmos a transição para o veículo 100% elétrico. A Volvo Cars inova no segmento de motorizações elétricas desde os anos 70. Então, para nós, é uma questão natural os avanços tecnológicos e, também, um posicionamento claro do nosso comprometimento com a mobilidade sustentável e a redução de emissões”, contou João Oliveira. |
No caso dos veículos pesados de carga, Holzmann afirmou que a Volvo foi muito objetiva quando lançou sua jornada de eletrificação para os próximos anos, primeiro, em 2019 com o lançamento de caminhões elétricos médios e, agora, com a extensão da propulsão elétrica para modelos pesados, que serão lançados a partir do ano que vem. Segundo ele, os novos produtos estarão disponíveis para vendas efetivas em 2021 e em escala industrial em 2022, mas com o claro objetivo de até 2040 ter uma oferta de produtos totalmente livres de combustíveis fósseis.
“Nessa jornada passamos por todas essas tecnologias. É um pouco diferente dos automóveis, porque temos outras questões a resolver, como as cargas gigantescas nos veículos de longa distância, o que nos impõem alguns desafios. Mas vamos passar pelos caminhões a bateria, a célula de combustível e com espaço para alguma hibridização nesse meio tempo. A Volvo está se posicionando com uma estratégia modular de produto”, explicou Alan Holzmann. |
Volvo só vai vender carros híbridos e elétricos em 2021
Sobre a aceitação pelo consumidor brasileiro dos produtos elétricos e híbridos, Oliveira, da Volvo Cars, destacou que é cada vez maior. Boa medida é analisar o mix de vendas dos automóveis da marca por aqui. Em 2019, a montadora vendia 20% em produtos eletrificados. Este ano a média deve ficar em 43% e se analisados os dois últimos meses, 60%. A projeção é que no primeiro trimestre de 2021 a migração para híbridos de toda a oferta de produtos esteja completa e a partir do segundo trimestre a Volvo já não ofereça mais no Brasil carros que sejam unicamente impulsionados por motor a combustão interna. Serão só híbridos ou elétricos, seguindo a estratégia global da fabricante.
Do ponto de vista do consumidor, uma pesquisa interna da montadora com seus clientes revela que 86% dos proprietários de híbridos não retroagirão na troca. Ou continuam com o híbrido ou tentarão uma opção 100% elétrica. “Outro ponto importante é quando olhamos o valor residual. O XC60 acabou de ser eleito o híbrido com menor desvalorização depois de um ano, com 9,8% de depreciação, índice muito baixo, algo que no passado era impensável com relação à aceitação do consumidor sobre o modelo. Hoje, vemos um mercado crescente de seminovos de híbridos. Tudo isso mostra qual é a atual aceitação do híbrido no Brasil”, revelou Oliveira.
E deu outro dado para complementar a questão da aceitação desse tipo de veículo por aqui. De cada quatro SUVs premium vendidos no Brasil, um é Volvo. Deste total, metade já é híbrido, reforçando a presença da tecnologia no mercado e fortalecendo os próximos passos da montadora que, no segundo semestre de 2021, lançará aqui o seu primeiro modelo 100% elétrico, o XC40 Recharge. Outra novidade é que até o fim do ano a Volvo deve apresentar globalmente um segundo produto elétrico, numa carroceria totalmente nova, e nos próximos cinco anos o plano é lançar um elétrico por ano. Com essa estratégia, pretendem até 2025 ter metade das vendas globais de híbridos e a outra metade de elétricos.
E os caminhões elétricos Volvo, quando chegarão ao Brasil? Holzmann disse que ainda não se pode falar em data, mas que o caminho estabelecido pela fabricante globalmente inexoravelmente será seguido também no Brasil.
“Quando falamos de veículos comerciais, temos alguns desafios adicionais [na eletrificação], como a infraestrutura de carregamento que ainda é problemática, bem como sob o ponto de vista de o produto precisar ser financeiramente atrativo ao consumidor. Estamos numa curva de ascensão de tecnologia e de queda de custos bastante acelerada e muito próximos do ponto de equilíbrio. Temos alguns pré-requisitos para cumprir em termos de infraestrutura, de incentivos fiscais, aguardar como ficará a política industrial, porque o caminhão precisa ter Finame [para viabilizar a venda no Brasil] e, para tanto, conteúdo local [é obrigatório na obtenção do financiamento]. Então, precisamos vencer esses desafios para que possamos fazer uma introdução segura de caminhões elétricos aqui”, ponderou Holzmann.
Automação e segurança veicular
De acordo com João Oliveira, a Volvo Cars há muito tempo vem trabalhando no desenvolvimento de sistemas de segurança veicular passivos para evitar acidentes. Bom exemplo foi a doação da patente do cinto de segurança de três pontos para o mercado há 60 anos. Entretanto, a questão ainda esbarra na falha humana, responsável por 95% do total de acidentes: “É preciso resolver a questão do condutor. Nos últimos tempos, o que temos mais trabalhado é no desenvolvimento do veículo autônomo. Tanto que já estamos aptos a lançar na nova versão do XC90, quando inaugurarmos a próxima geração da plataforma SPA, um carro autônomo para rodovias. Terá um sistema chamado highway autopilot, que está sendo desenvolvido juntamente com outros componentes, em parceria uma startup do Vale do Silício”, contou.
No caso dos veículos comerciais, Alan Holzmann disse que existe uma preocupação por questões de segurança quando se fala em condução autônoma, além de discussões éticas do ponto de vista das relações de trabalho. Com relação à automação, a empresa criou uma divisão especifica para desenvolver os veículos configurados para operar em ambientes confinados, como em mineradoras e portos: “A tecnologia já existe e está sendo usada, mas sem barreiras legais porque as operações são muito específicas (como é o caso do cavalo mecânico Vera, sem cabine nem motorista). Aqui no Brasil desenvolvemos uma versão autônoma do VM para operar na colheita de cana. Mas se estender para o todo ainda demorará muitos anos por todas as questões que já levantamos aqui”, finalizou.
Brasil participa da evolução tecnológica da cnh industrial
Diretamente dos Estados Unidos, Jay Iyengar, vice-presidente global de tecnologia (CTO) da CNH Industrial, abordou o tema “O Brasil na evolução global dos veículos pesados e máquinas”, na última live da manhã.
“O Brasil é extremamente importante para a CNH e sua cultura de inovação é muito rica. Vemos o país como um solo fértil para desenvolvimento de inovação para a empresa globalmente” afirmou Jay Iyengar. |
Ela elenca os motivos: “Crescimento contínuo do agronegócio (mesmo com a pandemia), expansão da infraestrutura, pool de talentos, foco em inteligência artificial, inovação, melhores fintechs. Tudo é pensando visando o ecossistema. Tudo muito vibrante no Brasil”, reforçou.
A empresa está presente no País com vários centros de pesquisa e de desenvolvimento e também com uma das maiores plantas de produção do mundo de máquinas agrícolas, localizada em Curitiba (PR). Ela também destacou que a contribuição que o Brasil pode dar para o resto do mundo é enorme: “Olhamos a tecnologia de perto e todas elas são implementadas para atender clientes globais. O país tem desafios muito grandes em termos de ambiente e de solo e isso faz com que busque alternativas. Veja a cultura da cana-de-açúcar e toda tecnologia embutida. É algo daí que se aplica globalmente”.
Jay tratou também sobre como a tecnologia sustentável e a conectividade vêm se tornando indispensáveis, ainda mais com a pandemia, e o quanto a CNH Industrial está inserida neste contexto. Digitalização tanto nos produtos quanto no ecossistema, propulsão alternativa que leva em conta a eficiência ambiental, máquinas eficientes que economizam combustível, vias para reduzir emissões são todas frentes de ação da empresa.
“Isso se estende também para os serviços que prestamos, onde nos debruçamos com muito empenho para estar perto dos clientes. A agricultura de precisão é um desafio no cenário global e que vale também para o Brasil. Estamos de olho em suprir a perda de produtividade com tecnologias mais precisas. Pensamos em toda a cadeia de valor, da logística ao sensoriamento agronômico. Visamos a propriedade desenvolvendo com tecnologias para apoiar o produtor.” (Veja conteúdo exclusivo no e-Book “Horizonte para máquinas agrícolas”, na área premium do #ABX20, no qual a CNH Industrial é fonte.)
Tecnologias em benefício do meio ambiente
Um trator que se move alimentado por biogás produzido a partir de dejetos gerados na própria fazenda a um custo 30% inferior ao do diesel, com o mesmo desempenho e com redução de 80% nas emissões, é uma das apostas da CNH Industrial em benefício do meio ambiente. Esse é o conceito do trator movido a biometano, tecnologia criada garantir sustentabilidade econômica ao produtor aliada à sustentabilidade ambiental. A extração de biometano pode ser combustível para máquinas, tratores e caminhões.
O biometano é um gás combustível que se origina da decomposição natural da matéria orgânica e é a única fonte de energia primária com pegada de carbono negativa. A tecnologia acelera o processo de decomposição e refina o gás gerado para uso em motores, e pode ser gerado pelo próprio produtor agrícola, em um ambiente de economia circular.
Segundo Jay, a CNH Industrial também está focada em eletrificação para redução de emissões de CO2 e já faz testes do protótipo Nikola TER, primeiro veículo resultante da joint venture com a Nikola Motors. O protótipo do caminhão elétrico equipado com células de hidrogênio , um Iveco 4×2, destina-se a aplicações regionais e tem autonomia de até 400 km.
“Temos trabalhado nos últimos 10 anos em ônibus elétricos e agora para eletrificação plena para todos os veículos. Estamos muito concentrados também no desenvolvimento de eixos elétricos, baterias e software que vai conectar tudo. Estamos em estágio bastante adiantado. O fato é que seja eletrificação ou uso de combustíveis alternativos, enxergamos em ambos bons caminhos. Mas tudo dependerá da aplicação, do custo da tecnologia e da maturidade do mercado”, encerrou a executiva.