Volume mensal de veículos
Em junho finalmente o volume mensal de veículos no País deve voltar a superar a casa das 100 mil unidades. Segundo acompanhamento da consultoria IHS Markit, até esta última semana do mês o ritmo apontava para 110 mil emplacamentos de automóveis e comerciais leves. Isso representa crescimento expressivo de quase 77% sobre maio, ainda que apenas metade das vendas registradas no mesmo mês de 2019, mas mostra que o mercado brasileiro retomou o curso de rampa ascendente, conforme atestaram os consultores da IHS Markit na quarta-feira, 24, em mais uma seção da série de entrevistas Lives #ABX20 (veja aqui esta e todas as já gravadas) promovida por Automotive Business
Ainda é cedo para comemorar essa possível recuperação no mês, porque parte dos licenciamentos estava represada, são de carros vendidos em março, abril e maio que não foram emplacados porque a maioria dos Detran estavam fechados.
“O volume de vendas de junho está bem alinhado à nossa projeção [para 2020, de 1,86 milhão de veículos leves vendidos e queda de 30% sobre 2019]. Mas é difícil mensurar o que é crescimento do mercado e o que é licenciamento residual [de carros vendidos antes e não emplacados]. Ainda não temos como mensurar isso, mas a boa notícia é que o número está bem alinhado à nossa previsão”, avalia Fernando Trujillo, consultor sênior da IHS Markit. |
Por “boa notícia” entenda-se o fato de a projeção da consultoria ser 10 pontos porcentuais mais otimista do que a da Anfavea, a associação dos fabricantes, que no início de junho divulgou sua primeira previsão após a chegada da pandemia ao Brasil, estimando uma pesada queda de 40% na vendas este ano, que desceriam para apenas 1,6 milhão e de veículos leves vendidos em 2020.
“Achei a Anfavea pessimista demais. Espero que os nossos números estejam certos, não os deles. O patamar de 1,6 milhão é muito baixo para a indústria. Mas entendo que eles precisam ser mais cautelosos e não gerar falsas expectativas”, pondera Trujillo, explicando que as projeções influenciam nas decisões de produção e podem gerar custos fixos muito elevados às montadoras.
PRODUÇÃO E VENDAS DE VEÍCULOS LEVES 2020/2021
Pouco mudou nas projeções anuais da IHS Markit para Brasil e Argentina. A consultoria continua a estimar retração de 30% nas vendas de veículos leves este ano em comparação com 2019, o que resultará em 1,86 milhão de unidades emplacadas em 2020. A produção segue o mesmo ritmo, com recuo de quase 33%, para 1,88 milhão de unidades produzidas. “Assim como mantivemos [as previsões] para 2020, continuamos com as mesmas para 2021 também. Mas vamos aguardar para ver como se comporta a economia”, afirma Trujillo.
Para 2021 a consultoria estima a volta do mercado para volumes acima de 2 milhões de veículos leves, com venda de 2,29 milhões de unidades, o que representará alta de 23% ante o resultado estimado de 2020. A produção é projetada em 2,44 milhões, crescimento projetado de quase 30%.
PRODUÇÃO E VENDAS DE CAMINHÕES 2020/2021
Para as projeções de vendas e produção de caminhões desta vez a IHS Markit escalou o consultor especialista na área Thiago Costa. Para veículos de carga acima de 6 toneladas de PBT a projeção é de vendas de 61,7 mil este ano, o que representará queda de 35% sobre 2019 – previsão que está bastante em linha com o que prevê a Anfavea, que divulgou expectativa de queda de 36% em 2020 nos emplacamentos de caminhões acima de 3,5 toneladas de PBT.
“Para caminhões médios o impulsionador da demanda é o comércio e variáveis de consumo, mas a queda da renda do brasileiro e o comércio reabrindo agora impactaram o segmento para baixo. Nos modelos pesados o puxador de vendas é o agronegócio, que teve momento muito bom mesmo durante a pandemia. O agronegócio continua com boa demanda, é um grande impulsor, mas tem limitações [não consegue recuperar o mercado inteiro]”, explica Thiago Costa. |
Esperando pela continuação dos bons resultados do agronegócio brasileiro, a consultoria estima vendas no Brasil de 79,4 mil caminhões acima de 6 t em 2021, o que representará crescimento de 28,6% sobre o projetado para 2020 e recoloca o mercado em patamar parecido com o de 2019 – ao contrário do mercado de veículos leves, que deverá demorar de dois a três anos para retornar ao patamar anterior à pandemia.
A consultoria projeta a produção de 77,3 mil caminhões no Brasil este ano, em retração de 31% sobre 2019, em número 15 mil unidades acima da expectativa de vendas domésticas. “A indústria de caminhões é mais enxuta e vive momento diferente da de leves, que já anunciou demissões. A Argentina ainda está em crise, mas Peru e Colômbia estão em abertura gradual, o que pode nos ajudar a exportar cerca 9 mil unidades este ano. O restante, na casa de 6 mil unidades, seria ainda para estoque, que é o patamar dos últimos anos”, explica Costa.
Para 2021 a estimativa é de produção de 111 mil caminhões acima de 6 t, em crescimento de 43,6%, o que também recoloca a indústria em patamar parecido com o de 2019, comprovando a recuperação mais rápida do setor.
ARGENTINA 2020/2021
Para o mercado argentino, depois de piorar suas expectativas em maio, a IHS Markit revisou um pouco para cima suas projeções de vendas, voltando ao que estimava em abril. Mas os números são bastante baixos: as vendas atingiriam 260,5 mil veículos leves em 2020 inteiro, em queda de 41,4% sobre 2019, e para 2021 a estimativa é de 285,6 mil, em expansão de 9,6%.
“A Argentina está combatendo a pandemia melhor que o Brasil, com apenas 50 mil casos e cerca de mil mortes registradas. Com isso, voltamos à projeção de abril. Os argentinos estão comprando carro como forma de proteção cambial contra a inflação, o que é comum lá”, destaca Trujillo.
Para a produção argentina não é esperado nada muito melhor: 252,4 mil carros e comerciais leves este ano, em retração de 23,5% ante 2019, e para 2021 a projeção é de 353 mil unidades, em alta de quase 40%, lastreada na esperada recuperação do mercado brasileiro, principal comprador de automóveis argentinos.
O mercado argentino de caminhões acima de 6 t deverá absorver apenas 5,5 mil unidades este ano, conforme calcula a IHS Markit, o que significa expressiva queda de 41%. É esperada a volta do crescimento em 2021, com expansão de 21,7%, mas em volume baixo, estimado em 6,7 mil caminhões.