Anfavea admite tombo de 40% nas vendas de veículos

Entidade faz sua primeira projeção pós-pandemia; estímulos podem mudar o cenário

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Moraes, da Anfavea: “Estímulos à economia podem melhorar o cenário”

Ao contabilizar novos recordes de baixa nos resultados da indústria para venda de veículos em maio, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos, a Anfavea, divulgou sua primeira projeção para o mercado brasileiro após quase três meses de intensificação da pandemia de coronavírus no País.

Vendas de veículos devem cair 40%

Levando em conta o fraco desempenho do setor até agora e diante de indicadores econômicos nada animadores, a entidade admite que as vendas este ano devem cair 40% em relação a 2019, para apenas 1,67 milhão de unidades, uma redução de 1,1 milhão em relação ao ano passado.

Para o mercado de veículos leves (automóveis e utilitários) a estimativa é de 1,6 milhão de unidades vendidas em 2020, em queda de 40% sobre 2019, no pior resultado desde 2003.

Para caminhões a retração esperada é de 36%, com expectativa de vender 65 mil unidades este ano, o que faz o segmento retroceder a volume parecido com o da crise de 2017. E para ônibus é esperado o maior tombo, de 52%, com apenas 10 mil chassis negociados, o que não acontecia desde 1986.

Após mais de dois meses esperando por sinais mais claros para poder revisar suas projeções para o ano, a Anfavea só divulgou a nova expectativa de vendas domésticas. Segundo alega o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, “ainda não é possível estimar com exatidão os novos níveis de exportação e produção, porque ainda é incerto quando outros mercados vão retomar as atividades e quando todas as fábricas voltarão a operar normalmente”. Mas Moraes adianta que as expectativas são de resultados também muito ruins para ambos os indicadores.

Nova estimativa para o mercado

A nova estimativa para o mercado brasileiro foi feita após dois meses completos de quedas abissais dos negócios. Dados consolidados pela Anfavea divulgados na sexta-feira, 5, revelam que o volume total de emplacamentos em maio, apenas 62,2 mil, foi o pior desde 1985. O resultado até representou crescimento de 11,6% sobre abril, mas profunda queda de quase 75% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Com isso, vai se aprofundando o saldo negativo de 2020, que no acumulado de cinco meses, com 676 mil veículos vendidos, já contabiliza retração de 37,7% e 409 mil unidades a menos do que o atingido no mesmo período de 2019, quando as vendas já tinham passado de 1 milhão.

O presidente da Anfavea destaca que a nova estimativa para o mercado brasileiro “é muito preocupante”, pois representa enorme reversão de expectativas, já que em janeiro a indústria apostava em crescimento de 9,4% este ano, esperando fechar 2020 com pouco mais de 3 milhões de veículos vendidos.

“A nova projeção representa retração de 45% em relação ao que esperávamos antes, isso significa quase 1,4 milhão de veículos a menos de receita e aumento da ociosidade da indústria que tem capacidade técnica para produzir 5 milhões por ano. Se não houver nenhum estímulo para recuperar a economia, claro que essa situação pode afetar o emprego no setor”, alerta Luiz Carlos Moraes.

Estímulos poderão modificar expectativas

O dirigente afirma que a previsão de vender apenas 1,67 milhão de veículos este ano foi feita sem levar em conta a adoção de incentivos para reaquecer a economia a partir do segundo semestre, como redução de impostos, expansão de crédito ao consumo e até um programa de renovação de frota, como já acontece em outros países – a Alemanha, por exemplo, anunciou um pacote de € 130 bilhões para recuperação da indústria que envolve a renovação da frota de caminhões.

“Essa é a nossa primeira visão para 2020. Esse cenário pode mudar com a adoção de estímulos, o que esperamos que aconteça, mas sem isso pode ser que a recuperação não aconteça no nível necessário nem em 2021”, afirma. Segundo Moraes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou que pretende começar em 30 a 40 dias a discutir medidas para estimular uma saída mais rápida da crise atual.

Levando em consideração o que aconteceu com o mercado até agora em conjunto com indicadores econômicos que não param de cair, tudo aponta para um cenário de terra arrasada. “Os índices de confiança estão em ladeira inclinada, o que joga para baixo a intenção de compra das pessoas.

Em 2015 e 2016 a queda do PIB foi de 3,7% em cada ano e a recessão foi enorme. Agora já há quem aponte retração de 7% a 8% este ano, o que aumenta muito nossa preocupação com o que pode acontecer”, lamenta Moraes.

Até o momento não houve redução do quadro de empregados nas fábricas de veículos porque todas as montadoras adotaram regimes de flexibilização de contratos de trabalho previstos na Medida Provisória 936, que permite a suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada e salários, com parte dos vencimentos pago pelo seguro-desemprego. Essa foi a primeira medida pleiteada pela indústria e atendida pelo governo, que este mês deve ser renovada por mais tempo.

Mas Moraes ressalta que esse é um remédio temporário, as demissões poderão acontecer mais adiante se a economia não voltar a crescer com maior vigor. “Estamos tentando manter os empregos, mas nesse cenário desenhado é difícil”, explica.

O fato é que o mercado projetado à frente é insuficiente para sustentar o tamanho da indústria nacional de veículos, que precisa de volumes muito maiores para manter o nível atual de empregos, ou terá de encolher.