Mercedes-Benz congela investimentos
Mercedes-Benz congela investimentos – Após um mês e meio de paralisação completa, a Mercedes-Benz voltou na segunda-feira, 11, a produzir caminhões e ônibus em suas fábricas brasileiras de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG), mas em ritmo reduzido a 50% da capacidade e 4,5 mil empregados, cerca de metade da força de trabalho da produção. Apesar da queda nas vendas de caminhões se apresentar menos profunda do que a vista até agora nos outros segmentos do mercado de veículos, o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer, aponta que a crise trazida pela pandemia de coronavírus também afeta gravemente os negócios da companhia, que terá de congelar os investimentos já previstos para os próximos dois anos no País.
A Mercedes-Benz estava no meio de um ciclo de investimentos de R$ 2,4 bilhões programados para o período 2018-2022. A maior parte dos recursos já foi aplicada: R$ 1,4 bilhão no desenvolvimento da versão brasileira do novo caminhão extrapesado Actros e R$ 100 milhões na nova linha 4.0 de montagem de cabines em São Bernardo. Com a chegada da crise, os R$ 900 milhões restantes para os próximos dois anos do programa estão congelados. Segundo Schiemer, o projeto de modernização industrial está 80% concluído e os 20% que faltam devem ser finalizados até o início de 2021, mas todos os outros planos terão de ser reavaliados e dependem de como a economia brasileira irá se comportar após a pandemia.
“Neste momento precisamos direcionar todos os recursos para pagar salários e fornecedores. Vamos terminar os investimentos que já começamos nas fábricas, mas os novos projetos estão congelados, porque não há mais dinheiro e todo o nosso pessoal de engenharia está trabalhando em home office, não podem fazer testes de campo com novos veículos em desenvolvimento”, explica Philipp Schiemer. |
Em paralelo ao congelamento de novos investimentos, Schiemer avalia que “será inevitável” rediscutir os prazos de marcos regulatórios, como é o caso da oitava fase da legislação de emissões de veículos pesados a diesel no Brasil, o Proconve P8, previsto para entrar em vigor a partir de 2022 com a adoção de motores com tecnologia de controle de emissões Euro 6, o que exige novos investimentos. “Possivelmente não será possível atender esse prazo, porque perdemos tempo de desenvolvimento a paralisação causada pela pandemia; além disso os fornecedores também pararam”, pondera.
MERCADO MENOR E SEM RENTABILIDADE
O executivo lembra que o programa de investimento da Mercedes-Benz em curso foi planejado levando em conta a recuperação contínua da economia e do mercado brasileiro de veículos pesados, o que não aconteceu. As projeções estimavam a venda de 110 mil caminhões e 23 mil ônibus no Brasil em 2020. “O ano começou muito bem, mas depois do meio de março tudo parou, a queda dos negócios foi brutal e ninguém mais sabe como será”, lamenta.
A média de vendas de caminhões no Brasil este ano era estimada pela indústria em 9 mil unidades/mês, número que caiu 56%, para 3.952 emplacamentos em abril. A Mercedes emplacou 1.931 em março e 1.180 em abril, em queda de 39%. “O mercado de caminhões não parou, por isso voltamos a produzir este mês. Existe demanda de alguns setores como agronegócio (é esperada safra recorde), químico e gás, celulose, alimentos e bebidas e farmacêutico. Mas outras áreas como logística, distribuição de mercadorias e construção civil, onde esperávamos grande recuperação, foram duramente afetadas pela crise e vão jogar os negócios para baixo”, pontua Schiemer.
No mercado de ônibus a situação é bem pior, o mercado recuou da média planejada de 1,9 mil unidades/mês para apenas 320 chassis em abril, um tombo de 83%, enquanto a Mercedes negociou 447 chassis em março e apenas 99 em abril, em retração de 79%. Schiemer destaca que as frotas urbanas de transporte público estão parcialmente paralisadas e no caso do segmento rodoviário as viagens foram drasticamente reduzidas. Com isso, a demanda por ônibus novos caiu a quase zero.
A crise, lembra Schiemer, interrompe os planos da Mercedes de voltar a apurar lucro no Brasil a partir deste ano, após longo período de prejuízos e ajuda da matriz na Alemanha. “Estávamos indo bem no caminho de voltar a ter rentabilidade no País, claro que isso agora está descartado este ano, mas temos de retomar em 2021, se a crise perdurar mais do que isso vamos ter muitas preocupações [sobre o futuro da operação]”, avalia.
Mercedes-Benz voltou a produzir com medidas de segurança e acordo de redução de jornada e salários
ACORDO PARA EVITAR DEMISSÕES
A questão trabalhista que emergiu da pandemia foi parcialmente contornada na Mercedes com a negociação para suspensão temporária de contratos de metade dos funcionários da produção e adoção de redução salarial e de jornada para os 50% restantes. Os empregados das áreas administrativas foram colocados em regime de trabalho remoto (home office) com corte de 25% nos salários e na jornada. O acordo prevê garantia de emprego até o fim de 2020.
“Conseguimos evitar demissões com uma negociação rápida, que contou com a sensibilidade do sindicato. Tudo foi negociado partindo da premissa que haverá recuperação dos negócios no segundo semestre. Temos esperança que a boa gestão possa reduzir as perdas que teremos até lá. Mas o relógio está avançando e talvez tenhamos de negociar novas medidas se a crise não for superada no tempo que prevíamos”, pondera Schiemer.
RETORNO AO TRABALHO COM MAIS SEGURANÇA
Atendimento em hospital de campanha montado dentro da fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo
Após paralisar desde 23 de março suas fábricas no Brasil, a Mercedes-Benz retomou a produção esta semana em um “novo normal”, com diversos cuidados para evitar a contaminação dos funcionários pela Covid-19, doença causada pelo coronavírus. “Fomos obrigados a interromper as atividades por causa da insegurança que a pandemia gerou em todos. Precisamos garantir um ambiente seguro para o regresso dos empregados. Temos claro que só vamos superar essa crise se oferecermos aos clientes e funcionários um ambiente protegido. Adotamos as melhores práticas internacionais para isso”, afirma o presidente da empresa.
As medidas de segurança adotadas para a volta ao trabalho na Mercedes começam desde o embarque dos empregados nos ônibus fretados que levam à fábrica. A frota foi duplicada para permitir o maior distanciamento entre as pessoas a bordo dos veículos. No trabalho, todos passam por medição de temperatura duas vezes ao dia, a primeira logo na chegada à planta. O uso de máscara é obrigatório em todos os ambientes.
Dentro da planta de São Bernardo foi montado um hospital de campanha com 150 metros quadrados e 30 profissionais de saúde para atender funcionários com suspeita de terem sido contaminados pelo coronavírus. Nos primeiros dias de funcionamento, estão sendo feitos cerca de 10 atendimentos por dia. “Com o hospital nós também contribuímos para desafogar o sistema de saúde externo”, pondera Schiemer.
Segundo o executivo, ainda não foi confirmado nenhum caso de Covid-19 dentro da fábrica. “Mas se acontecer temos de reagir rápido, isolar e tratar. Podemos fazer testes para e temos uma rotina estabelecida para isso. Com certeza vamos ter casos da doença, alguns podem ter se infectado fora da fábrica e estamos acompanhando eles e suas famílias. Não temos como impedir, mas podemos interromper o mais rapidamente possível a cadeia de infecção com isolamento e monitoramento dessas pessoas”, diz.