Otimismo na indústria pela alta nas vendas de automóveis

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Carro, motocicleta, caminhão e trator. Todos os segmentos da indústria automobilística brasileira estão subindo a ladeira, consolidando a superação da crise vivida nos últimos anos. A principal entidade do setor, a Anfavea, que representa as montadoras, prevê a produção de 3,16 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil em 2020. O volume corresponde a um aumento de 7,3% na comparação com o resultado de 2019 – é cerca de três vezes mais que a projeção para o PIB neste ano, de 2,5%.

Se os cálculos estiverem certos, a indústria brasileira irá romper a marca das 3 milhões de unidades produzidas localmente. Com isso, vai resgatar o patamar alcançado pela última vez em 2014, quando 3,14 milhões de veículos saíram das linhas de montagem brasileiras. “Estamos celebrando as grandes conquistas e precisamos ser ainda mais ambiciosos”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.

Com a mesma sintonia, o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Junior, que responde pelo desempenho do setor de concessionárias, afirma que o desempenho positivo se deve a alguns fatores econômicos, como taxa de juros menores e à queda nos índices de inadimplência e de desemprego. Considerando apenas o mês de dezembro, foram emplacadas 262.737 unidades, 12% mais em relação ao mesmo mês de 2018, quando foram vendidos 234.505 veículos.

Na carona das montadoras, as autopeças também projetam um ano de fatura. O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) prevê que a indústria de autopeças deve faturar R$ 148,5 bilhões, 3% acima dos R$ 144 bilhões do ano passado. A expectativa positiva está escorada nas estatísticas do setor em 2019, que foi impulsionado pelo segmento de veículos pesados.

Em 2019, foram vendidos 101,3 mil caminhões, alta de 33% ante o ano anterior. Se os resultados das montadoras crescem, todo o setor avança. “Nossa previsão era vender 2 mil unidades a mais, mas, mesmo assim foi um crescimento robusto, o dobro do que vendemos em 2016”, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes.

O cenário otimista para o setor tem sido turbinado por uma combinação de fatores macroeconômicos. De acordo com o economista da Serasa Luiz Rabi, a principal razão é a queda na taxa de juros, que melhorou o acesso ao crédito. Em 2019, a taxa básica de juros (Selic) caiu de 6,% para 4,5%. “Além disso, com o 13º salário e os saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, houve um aumento pontual da renda da população, que acabou gerando um bom desempenho”, explicou.

Com mais dinheiro no bolso e linhas de financiamento mais baratas a confiança para assumir dívidas de longo prazo começa a voltar. A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), chegou a 97,1 pontos em janeiro, alcançando seu melhor resultado para um mês de janeiro desde 2015.

Segundo essa pesquisa, houve um crescimento de 1,2% em relação ao mesmo período de 2019. Com o ajuste sazonal, a ICF apresentou uma retração mensal de 0,3%. Apesar de ser a segunda consecutiva na série dessazonalizada, a queda foi menos intensa do que a registrada em dezembro de 2019 (-0,8%).

Na avaliação do presidente da CNC, José Roberto Tadros, os números mostram que os consumidores continuam cautelosos com seus gastos no curto prazo, mas sinalizam um cenário mais otimista no longo prazo, além de serem um indicativo de que a economia brasileira deve ter um 2020 melhor que 2019. “Os resultados estão alinhados com uma melhora da percepção econômica, já sinalizada pelo aumento da confiança dos empresários do comércio, que também teve seu melhor janeiro em anos”, afirma. “Os indicadores medidos neste primeiro mês traduzem uma recuperação gradual, impulsionados pela inflação baixa e redução nas taxas de juros.”

Luiz Carlos Moraes, da Anfavea, afirma que projeção otimista se explica, principalmente, pela sutil melhora da economia e do ambiente de negócios no Brasil. Segundo ele, a expectativa que o PIB avance 2,5% em 2020, com inflação controlada, retomada gradual do nível de emprego e, ainda, a redução da Selic, tornam mais barato o financiamento de veículos.

O aumento mais expressivo do volume de produção deve acontecer entre os veículos pesados. Segundo a Anfavea, as fabricantes do segmento podem elevar os volumes em 13,4%, com 160 mil unidades em 2020. Já a produção de automóveis e comerciais leves é estimada em 3 milhões de veículos, patamar 7% superior ao de 2019.

Mercado interno

A responsabilidade por puxar a produção de veículos vai ficar nas mãos do mercado interno neste ano. Enquanto as vendas dentro do país devem crescer 9,4% e chegar a 3,05 milhões de unidades, é esperado um novo tombo das exportações, de 11%. A redução é reflexo das dificuldades da Argentina, o principal mercado internacional para os veículos nacionais.

“As exportações brasileiras seguem nesta gangorra de subidas e descidas porque temos muita dependência de um só parceiro comercial”, diz Moraes. Segundo ele, o chamado custo-Brasil, que inclui a infraestrutura insuficiente e a alta carga tributária local, impedem a indústria de ter competitividade para levar os produtos nacionais a outros mercados. Além da questão na Argentina, o executivo lembra que 2020 deve ser um ano desafiador para outros mercados importantes para o Brasil, como Chile e Colômbia, que vivem crises políticas e efervescência de manifestações e movimentos sociais.

Caminhões 

A grande estrela no mercado neste ano deverá ser, mais uma vez, o segmento de caminhões. Puxado pelo agronegócio, o mercado deve crescer 18%, para 120 mil unidades, segundo projetam as fabricantes. Será o quarto ano seguido de alta nas vendas, após o setor registrar seu pior momento em 17 anos, com 50,6 mil veículos vendidos em 2016, em plena crise econômica.

“O ano de 2020 ficará marcado como a consolidação da retomada”, garante Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO). Segundo ele, 2020 será um ano de importantes lançamentos, como o início da produção do primeiro caminhão elétrico e do primeiro veículo sem retrovisores. Em 2019, foram vendidos 101,3 mil caminhões, alta de 33% ante o ano anterior. “Acreditamos que as renovações de frota acontecerão numa velocidade maior e num tempo menor neste ano, o que manterá as vendas aquecidas no país”, diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz.