Indústria precisa entender melhor as dores do consumidor

Estudo da Ipsos alerta para grandes mudanças no comportamento do indivíduo, movimento que influencia diretamente o consumo

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Marcos Calliari, da Ipsos: ânimo da população com o país afeta diretamente o consumo. Foto: Rui Hizatugu

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Como caminha o relacionamento entre indústria e consumidores. Esse foi o tema do estudo apresentado por Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, durante o Workshop Planejamento Automotivo ABPLAN 2020, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 19, no WTC Events Center, em São Paulo.

“O momento hoje é de incerteza e, ao mesmo tempo, de muita expectativa”, explicou o executivo ao mostrar informações da pesquisa realizada pela consultoria, como o do índice de confiança do consumidor, que caiu de 54,9 pontos no início do ano para 48,2 pontos atualmente em função do que foi prometido pelo atual governo e não se realizou.

Sendo o consumidor a peça mais importante no contexto da indústria automotiva – quem compra o carro –, é mandatório que as empresas entendam como ele funciona e se esforcem para conquistá-lo. Boa medida para entender esse comportamento vem da correlação entre as vendas de automóveis e o índice de confiança, que mostra de maneira muito sintomática a percepção sobre o futuro do País. Enquanto o índice mundial de percepção da população sobre os rumos de seu país é 58% positivo, no Brasil 59% consideram que a rota por aqui está errada.

Tal constatação nada mais é do que a fotografia de uma população “massacrada” nos últimos anos nos âmbitos político e econômico, o que mexe demais com sua disposição de investir.

“Somos hoje um país em mudança dentro de um mundo em transformação e isso também precisa ser considerado, afinal influencia diretamente os comportamentos. São grandes os desafios das instituições em geral, que não estão preparadas para as mudanças que vêm acontecendo. E isso esbarra nas empresas, que precisam estar atentas”, alerta Marcos Calliari.

 

Consumo e como a população se manifesta

O fenômeno demográfico pelo qual o mundo vem passando, incluindo crescimento da expectativa de vida, da coexistência geracional, das novas configurações domésticas e, ao mesmo tempo, as baixas nas taxas de fertilidade, analfabetismo e casamento, têm suas implicações. No Brasil, por exemplo, os lares com um habitante saltaram de 9,2% em 2001 para 14,6% em 2015, enquanto 65% vivem com alguém com 50 anos ou mais. São mudanças que estabelecem novo cenário social e, consequentemente, comportamental.

Com isso, as instituições passaram a ser mais questionadas e a sociedade dividida. Apenas um quarto da população acredita que o diálogo é bom e 51% não confiam nas empresas. De acordo com a pesquisa da Ipsos, o Brasil é o país que mais produz memes e um cenário ainda mais explosivo: 61% das pessoas dizem utilizar WhatsApp para se informar e 62% acreditaram na notícia antes de verificar se era verdadeira ou falsa.

“Chegamos em um momento de convivência de paradoxos e a mudança de olhar de grupos que sempre prevaleceu deve mudar para o indivíduo. Como indústria, estamos caminhando para um universo de parcerias, especialmente em tecnologia, e compartilhamentos de carros, serviços e propriedades. E como fazer isso? Entendendo melhor as pessoas”, finalizou o consultor.