Competitividade da indústria automotiva
Com o mote “A corrida contra o tempo para a competitividade da indústria automotiva já começou!” a indústria automobilística busca oportunidades em meio ao pacote de medidas do acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia, no dia 28 de junho, que vai gradualmente eliminar o imposto sobre importação de veículos em 15 anos. A queda de alíquotas de importação pressiona a indústria nacional a correr para mostrar competitividade frente aos veículos fabricados em solo europeu.
Competitividade da indústria automotiva – Anfavea
Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o acordo Mercosul-UE abrange automóveis e determinados modelos de caminhões ainda a serem divulgados. “Após 20 anos de discussão, é um acordo histórico, de muito impacto na economia. Mas agora temos previsibilidade, sabemos como vai funcionar, não é só a questão da importação, consideramos a hipótese de exportar, mas, para isso, precisamos ganhar competitividade”, declara o executivo. “Agora temos data para que o governo e a sociedade ataquem o Custo Brasil e melhorem nossa competitividade, pois iremos ingressar num jogo global de competição, repleto de oportunidades”, complementa.
Montadoras investem levando em conta acordo Mercosul-UE
Ele destaca que as decisões de investimento das montadoras instaladas no país já passam a levar em consideração o acordo Mercosul-UE. A previsão é de que as medidas entrem em vigor somente após aprovação do tratado pelo Conselho Europeu e pelos parlamentos de todos os países envolvidos, o que ainda pode levar cerca de dois anos.
Pelo acordo Mercosul-UE, primeiramente, será instalado um período de transição de sete anos, com um regime de cotas de até 50 mil veículos que podem ser exportados da Europa para o Mercosul, dos quais 32 mil veículos são destinados ao Brasil, com imposto de importação de 17,5%. A alocação desses 32 mil veículos vai ser definida pelo país exportador. Para o que vier a ser comercializado acima dessa cota, será mantida a alíquota atual de 35%. Ao término dos primeiros sete anos, o imposto começará a cair anualmente, para 28,4% no oitavo ano, 21,7% (9º ano), 15% (10º ano), 12,5% (11º ano), 10% (12º ano), 7,5% (13º ano), 5% (14º ano) e 2,5% (15º ano). A partir do 16º ano, a comercialização de produtos entre os dois blocos poderá ser feita com tarifa zero.
Competitividade da indústria automotiva – Caminhões e ônibus
Gustavo Bonini, vice-presidente e coordenador da câmara de pesados da Anfavea, e diretor de relações institucionais e governamentais da Scania, destaca que, em relação a caminhões e ônibus, já há exportação de montadoras do Brasil para mercados europeus, como Suécia, Alemanha e Espanha.
“Nossos produtos já estão mais globalizados, ainda que com todas as dificuldades de competição. O acordo Mercosul-UE pode ser uma oportunidade. Há o desafio de estarmos competindo com alguém que faz o mesmo tipo de produto e em grande volume, mas há o aspecto que pode ser uma oportunidade de exportar para lá. E se resolvermos os pontos de infraestrutura e manicômio tributário é possível sermos competitivos e entendermos que essa importação não seja vista como uma ameaça, mas como um complemento. Exportação e importação são boas, são complementares, e o Brasil é ruim nas duas, a gente exporta pouco e importa pouco. O importante é que a importação traga benefício para o país, seja em tecnologia ou em leque de produtos, e não só para o setor automotivo”, diz Bonini.
Mercado
Ao divulgar o resultado de vendas do mercado automotivo no primeiro semestre do ano, a Anfavea anunciou uma revisão na previsão de exportação de veículos diante do registro de queda de 41,5% no volume exportado de janeiro a junho (221,9 mil unidades) em comparação a igual período do ano passado (379 mil automóveis de janeiro a junho de 2018). A estimativa agora é de um volume de vendas ao exterior em torno de 450 mil veículos, número 28,5% inferior ao registrado no ano passado. A previsão inicial era de exportação de 590 mil unidades, com queda de 6,2% sobre 2018.
Mas a diretoria da entidade procura manter o otimismo e aposta em um cenário melhor no segundo semestre do ano. De janeiro a junho, as vendas de automóveis no mercado interno cresceram 12,1% sobre igual período do ano passado, para 1,31 milhão de unidades.
Segmento de caminhões
Para o segmento de caminhões, não houve revisão nas previsões de vendas no mercado interno ou nas exportações, apesar de uma retração de 15,8% nas vendas do mês de junho, em comparação a maio. Ao contrário, Gustavo Bonini acredita que o acumulado ao final do ano poderá até ultrapassar a previsão de aumento de 15% no volume de ônibus e caminhões licenciados, que pode superar 105 mil veículos.
No acumulado do semestre, o volume de caminhões licenciados cresceu 46,1% sobre o mesmo período de 2018, alcançando 46,8 mil veículos emplacados. As exportações de caminhões tiveram queda de 58,6% no acumulado de janeiro a junho, somando apenas 5,9 mil unidades vendidas ao exterior, frente a 14,4 mil veículos em igual período do ano passado.
Recall
Outro destaque no segmento automotivo nesta última semana foi a assinatura de duas portarias que visam aprimorar o sistema de recall no país. O Ministério da Justiça e Segurança Pública iniciou uma parceria com o Departamento Nacional do Trânsito (Denatran), do Ministério da Infraestrutura, para criar o Serviço de Notificação de Recall Nacional. A indústria fará o chamamento do recall utilizando novas maneiras de comunicação, como redes sociais e e-mails para tentar um contato mais direto com os proprietários e o Denatran passará a enviar mensagens diretamente para o consumidor, via mensagem ou carta, porque o órgão tem as informações sobre quem é o atual dono do veículo, caso ele tenha sido revendido. Se o veículo, depois de um ano, não tiver feito o recall, vai aparecer essa informação no certificado do carro e o novo comprador vai saber se aquele veículo teve o recall atendido ou não.
Banco de dados do Denatran
“Através do banco de dados do Denatran vai ser possível fazer um chamamento mais assertivo em relação ao atual dono do veículo, além das formas tradicionais e dos sites das montadoras”, explica Moraes. De acordo com ele, as ações de recall no setor automobilístico do país têm cerca de 40% de retorno e o objetivo é atingir níveis semelhantes ao padrão europeu que é de cerca de 90% de atendimento nos recalls.