Venda de veículos leves cairá 3,5% se não houver reformas

IHS Markit faz previsões e diz que economia continuará dependendo do fim da crise política

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Mercado de veículos leves
Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit

Mercado de veículos leves

O mercado de veículos leves deverá cair 3,5% em 2019 e 8% em média até 2023 se não houver reformas estruturais no governo brasileiro que representem pelo menos R$ 800 milhões de economia em dez anos. A afirmação foi feita por Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, durante apresentação no Automotive Business Experience, ABX19, realizado segunda-feira, 27, no São Paulo Expo. Trujillo fez previsões e expectativas para o mercado de veículos leves. “O grande entrave para nossa economia continua sendo a política”, disse Trujillo. “Enquanto o governo não conseguir um diálogo com o Congresso, a economia continuará sendo afetada, à espera das negociações para as reformas da previdência e tributária.”

IHS Markit prevê um bom ciclo de crescimento

Se até agosto, entretanto, as reformas forem aprovadas, a IHS Markit prevê um bom ciclo de crescimento para o mercado de veículos leves: 10,3% em 2019, 5,2% em 2020 e 3,5% em 2021, quando o mercado voltaria ao volume de 3 milhões de unidades anuais. Esse segundo panorama faz parte das previsões otimistas da IHS Markit. Com ela está a queda na taxa de financiamento de veículos, que caiu de 26% para 21% ao ano. O crédito disponível para financiamento já é de R$ 180 bilhões, mesmo volume de quatro anos atrás. A inadimplência está estável, em 3,2%. Vale lembrar que 55% das vendas de veículos leves no Brasil são feitas por meio de financiamento.

Cenários pessimista e otimista

Durante sua apresentação no ABX 2019, Trujillo mesclou os cenários pessimista e otimista. Voltando ao cenário pessimista, ele disse que o risco de “contágio da crise argentina no Brasil é real se o governo não acertar as contas públicas”. Para a IHS Markit, a crise política entre o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional já está afetando os dados macroeconômicos. Trujillo aponta quatro tendências negativas verificadas no primeiro trimestre: queda na confiança do consumidor, aumento do desemprego, recuo na intenção de compra e baixa na atividade econômica.

Dentro do atual cenário, a IHS Markit prevê para 2019 um crescimento no PIB de 1,32%. Para efeito de comparação, o Banco Central trabalha com uma previsão de 1,24%, feita pela pesquisa Focus. As importações caíram para 11,7% e o dólar na casa de R$ 4 também vai impactar a importação de carros. Trujillo falou ainda sobre a continuidade da crise na Argentina, que teve sua previsão de vendas reduzida de 510 mil para 460 mil este ano.

No cenário otimista, a IHS aponta a Chevrolet, a Volkswagen e a Toyota como as marcas que mais ganharão volume no mercado interno em 2019, todas com um crescimento em torno de 40 mil unidades. A Chevrolet, por causa dos novos Onix e Prisma, a Volkswagen por causa do desempenho do Polo e do T-Cross e a Toyota em função do Yaris e do novo Corolla.

Carros automâticos superam manual

Trujillo também destacou que este será o primeiro ano em que as vendas de carros automáticos superarão os emplacamentos de carros com câmbio manual, com previsão de 53%. E observou: “Ainda não existe nenhuma transmissão automática sendo produzida no Brasil.” No segmento de SUVs, 90% dos carros já são automáticos. Essa configuração está crescendo também no segmento B, onde estão Chevrolet Onix, VW Polo, Fiat Argo e Hyundai HB20.

Veículos híbridos ou elétricos

As previsões da IHS Markit também alertam para o pouco investimento do Brasil na eletrificação dos carros. Segundo a consultoria, em 2022 os veículos híbridos ou elétricos já somarão 38% do mercado europeu. Nos EUA e na China a previsão é de 20%, mas no Brasil será de apenas 2%. Ampliando a previsão, no ritmo atual o Brasil terá apenas 10% de carros eletrificados em 2027. “O Brasil corre o risco de ser uma ilha de carros com motor a combustão num mundo de carros eletrificados”, observa Trujillo.

Outro ponto preocupante para as montadoras, segundo a IHS Markit, é o crescimento das vendas diretas (frotistas, PcDs, governos, taxistas). “As vendas diretas estão aumentando e devem chegar a 44% este ano, o que é um problema para as montadoras, pois essa modalidade de venda exige altos descontos”, disse. Quanto aos lançamentos, 20% serão de carros totalmente novos (como o recente VW T-Cross) e 45%, SUVs. As montadoras que mais irão renovar seus modelos, segundo a IHS, serão a GM, a FCA, a Aliança Renault Nissan e a PSA.