Geração Z deixará de comprar 250 mil carros em 2030

Bright Consulting diz que os preços continuarão subindo, mas o emprego não

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Em 2030, os jovens da geração Z, os chamados Centennials (nascidos a partir de 1997), serão a primeira geração de consumidores que não conheceu o mundo sem a internet e poderá deixar de comprar algo como 250 mil carros/ano, segundo estudo desenvolvido pela Bright Consulting, dentro do Projeto Automotive Brasil 2030, que traça o futuro da indústria no País baseado em diversos fatores para entender como será o comportamento dos consumidores. O estudo serve a montadoras e bancos (futuramente também ao governo brasileiro) e foi parcialmente apresentado por Paulo Cardamone, da Bright, no Automotive Business Experience, ABX19 , realizado segunda-feira, 27, no São Paulo Expo.

Transformações da indústria automobilística

Falando sobre as transformações da indústria automobilística até 2030, Cardamone traçou um panorama bastante complexo para o setor. Segundo ele, o setor vive um momento disruptivo como nunca aconteceu na história.

““Há falta de clareza e grande limitação de recursos na indústria. Tomar decisões é extremante complicado”, avalia Paulo Cardamone.

Usufruir e não possuir

Porém, é preciso tomar as decisões. Por isso a pesquisa da Bright ouviu mais de 270 executivos sobre 34 questões-chave. A conclusão mais chocante é que 25% dos consumidores da Geração Z simplesmente não vão comprar automóvel. “Esses consumidores preferem usufruir e não possuir”, explicou o consultor, para justificar o comportamento que, segundo ele projeta, fará com que 250 mil carros/ano deixem de ser vendidos no mercado brasileiro.

Falando para uma plateia de executivos da indústria no ABX19, Cardamone disse que “as montadoras não têm capital para atender a tantos movimentos disruptivos, por isso existem muitos movimentos e alianças estratégicas”. Enquanto o executivo da Bright falava, o público presente no ABX19 também tentava entender a complexidade da possível fusão entre a FCA e a Renault, anunciada no mesmo dia. As razões desse gigantesco acordo estavam na tela mostrada por Cardamone. Segundo ele, o foco da indústria automobilística para atender as demandas de 2030 está em três fatores: maior segurança nos carros, quebra do paradigma da propulsão (carros híbridos ou elétricos) e maior conectividade.

Cenários econométricos

A Bright desenvolveu um modelo econométrico baseado em quatro itens: famílias com renda superior a R$ 5.000/mês, índice de confiança do consumidor, tíquete médio do veículo e lista de desejos. Num cenário otimista para a economia, a consultoria prevê um mercado de 2,75 milhões de veículos leves em 2019, crescendo para 3,91 milhões em 2025 e chegando a 4,57 milhões em 2030. Cardamone ressaltou, porém, que em 2012, antes da crise, “quem não previsse um mercado de 4,5 milhões em 2020 perderia o emprego”.

Outro aspecto marcante na apresentação de Cardamone foi a relação entre preços e empregos no setor. “Os preços dos veículos vão continuar subindo sempre”, afirmou, devido a três fatores de impacto: mudanças na segmentação (mais conteúdo nos carros), regulação (investimentos em segurança e controle de emissões) e SUVs (são mais caros e continuarão em alta). Os investimentos vão se concentrar em portfólio de produtos, digitalização da manufatura e processos produtivos. “A produtividade no Brasil está próxima da produtividade na Europa. Por isso, se a indústria 4.0 der certo, os níveis de emprego ficarão cada dia mais estáveis”, previu. Quanto ao preço, Cardamone foi incisivo: “A indústria não vai mais trocar a não utilização da capacidade da fábrica por preço. Ela vai buscar rentabilidade”.

Indústria de autopeças

Para a indústria de autopeças, a Bright também vê um cenário de muitos desafios para a próxima década. Somente os sistemistas tier 1 (o primeiro nível direto de fornecimento às montadoras), que reúne cerca de 70 grandes empresas globais e fornece 80% das peças para os carros brasileiros, podem seguir com uma margem de lucro entre 5% e 6%. Para os tiers 2 e 3, porém, a realidade é outra. “Com resultados negativos na casa de 10%, os tiers 2 e 3 estão praticamente na UTI”, disse Cardamone. E isso também dificulta a entrada do Brasil num mundo cada vez mais conectado e eletrificado.

Bright Consulting

De acordo com os dados da Bright Consulting, em 2030 mais de 50% dos carros vendidos no mundo serão híbridos ou elétricos. Mas no Brasil esse índice será de apenas 9,7%. Para atender ao novo consumidor digital, os carros brasileiros continuarão apostando em conectividade (e nesse aspecto o Brasil vai bem, segundo a Bright), mas um setor pagará caro pela mudança de comportamento do consumidor: as concessionárias. Cardamone disse que já existem 120 milhões de acessos digitais por mês ligados à área automotiva, mas somente 10% das vendas utilizam um processo virtual. “Até 2030 mais de 50% das vendas serão feitas utilizando um processo virtual e isso resultará na redução de 25% dos concessionários completos”, observou.