Custo de produção no México
Produzir um carro no México custa 18% mais barato do que fazer o mesmo modelo no Brasil. É com essa conclusão que a Anfavea, associação nacional das fabricantes de veículos, apresenta um estudo de comparação de custo de produção entre os dois países a partir de um levantamento feito pela PwC e encomendado pela própria entidade a fim de identificar os principais gargalos que abalam a competitividade brasileira.
Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, que conduziu a apresentação durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira, 7, em São Paulo, o material já foi apresentado ao Ministério da Economia. Segundo o executivo, o objetivo é comparar os custos de produção de cada país e com isso traçar metas junto ao governo para que possam melhorar a competitividade brasileira, elevando as exportações e a participação de produtos nacionais no mercado global.
O índice
O índice considera apenas o custo de produção, ainda sem margem ou tributos. Uma das principais queixas da Anfavea é justamente o efeito tributário brasileiro sobre os custos de produção. Enquanto o México possui apenas um tipo de imposto, o IVA – Imposto sobre Valor Agregado na faixa de 16% – no Brasil, a indústria conhece muito bem as siglas ICMS, PIS/Cofins e IPI, cada um com uma alíquota diferente ao longo da cadeia e algumas com variação para cada tipo de motorização.
Segundo o levantamento, o custo de um veículo no Brasil pode ficar entre 37 p.p. e 44 pontos porcentuais acima do custo de um veículo similar feito no México quando considerados os impostos. O custo Brasil de produção é cerca de 18 p.p. maior que o do México materiais e na logística encarecem o produto brasileiro, segundo o estudo.
“México e Brasil são países com aspectos socioeconômicos bastante similares, mas com perfis comerciais distintos”, reforça o presidente da Anfavea.
Moraes assinala que a ideia de propor sugestões ao governo a partir do documento diz respeito a assuntos não contemplados pelo Rota 2030. “Queremos atacar as dimensões relacionadas a carga tributária, não imediatamente, porque o País não permite neste momento, mas queremos tratar a longo prazo. Acordos bilaterais e logística também temos que resolver para ter alguma chance de competir com o México e diminuir esse gap”, disse.
Dois países e duas realidades diferentes
Feito a partir de dados fornecidos por cinco montadoras, o estudo abrange diferentes aspectos da indústria automotiva brasileira e mexicana e suas respectivas particularidades. Para a Anfavea, a relevância de analisar um mercado como o do México é dada a partir de sua importância para as exportações brasileiras: é o segundo maior destino de veículos feitos aqui, perdendo apenas para a Argentina. Já na mão contrária, o Brasil é sexto maior destino de veículos feitos no México, que exporta mais para os Estados Unidos, Índia, Japão, Alemanha e Tailândia, considerando os dados utilizados no estudo, que são de 2017.
No México
No México, as exportações são baseadas em produtos manufaturados de maior valor agregado e têm um papel fundamental na economia local: o país possui doze tratados de livre comércio com 46 países, além de 32 acordos bilaterais. O Brasil computa tratados de livre comércio com 11 países e 21 países envolvidos em acordos bi e multilaterais. Para o México, a indústria automotiva figura como o principal tipo de produto enviado para outros mercados: automóveis, autopeças e caminhões ocupam respectivamente o primeiro, segundo e terceiro lugar no ranking de itens mais exportados, somando 22,8% do total exportado em 2017.
No Brasil
Por sua vez, a maior parte das exportações do Brasil são concentradas em commodities, como soja, minério de ferro e petróleo, que responderam por 27,1% das exportações em 2017. Os automóveis só aparecem na 11ª posição deste ranking, com 1,8% de participação do volume total exportado pelo País.
Historicamente, a indústria mexicana se caracteriza por alta ocupação e elevadas exportações. Os dados apontam que a produção mexicana chegou a 3,9 milhões de veículos no último ano, com ocupação na faixa dos 88%. No Brasil, o volume foi de 2,7 milhões de unidades e ocupação de 60%.
O aumento consistente da produção da indústria mexicana é consequência do desempenho positivo da economia americana (+2,2% a.a. do PIB nos últimos 5 anos) e também a melhora da economia doméstica. O aumento de poder de compra tanto do americano como do mexicano permitiu o aumento das vendas de automóveis nestes mercados. Um destaque – e desafio para o Brasil – é o crescimento das importações e da participação de veículos usados dos EUA no mercado mexicano, competindo diretamente com veículos produzidos do Brasil.