Ghosn acusado de sonegação
Após manter Carlos Ghosn preso por 20 dias em Tóquio, Japão, a promotoria indiciou formalmente o executivo, alegando que ele escondeu cerca de metade dos pagamentos recebidos como CEO da Nissanentre 2010 e 2015, deixando de informar algo como US$ 43 milhões ao fisco japonês. Ao mesmo tempo, os promotores apresentaram uma nova acusação, de que Ghosn e a Nissan teriam sonegado impostos sobre outros US$ 38 milhões pagos entre 2015 e 2018. Com isso, já foi concedida a prorrogação da prisão por mais 22 dias.
Não funcionou a estratégia da Nissan de denunciar Ghosn à Justiça japonesa para escapar de acusações, pois a promotoria também indiciou a empresa no processo, por violação da legislação de instrumentos financeiros e câmbio do Japão. Greg Kelly, que também era membro do conselho da companhia e foi preso junto com Ghosn, também foi acusado de ter escondido a remuneração do executivo quando era o responsável por recursos humanos da empresa. Segundo fontes ouvidas por jornais locais, Ghosn negou todas as acusações e Kelly teria declarado que parte da remuneração foi paga por meio de bônus em mercado, por isso não precisariam constar nos balanços da Nissan.
A Nissan
A Nissan afirma ter apurado em investigação interna que seu ex-CEO e ex-chairman (presidente do conselho) usou indevidamente fundos da companhia para comprar e reformar imóveis em Paris, Beirute e no Rio de Janeiro. No entanto, essas acusações não fazem parte do processo movido contra Ghosn no Japão.
Quando foi preso em 19 de novembro logo depois de aterrissar em Tóquio a bordo de um jato particular, Ghosn trabalhava no projeto de fusão total da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, arquitetada por ele desde que havia assumido o comando da Nissan em 2000. O projeto enfrentava resistência por parte de executivos japoneses. Segundo fontes ligadas a Ghosn relataram à agência Dow Jones, ele estaria insatisfeito com os resultados da companhia japonesa e planejava substituir o atual CEO Hiroto Saikawa, indicado por ele mesmo há cerca um ano para substituí-lo na posição de executivo chefe. As informações sugerem uma suposta conspiração corporativa para afastar Ghosn, já que o próprio Saikawa divulgou todas as acusações contra o executivo franco-brasileiro antes mesmo da promotoria.
Ligações perigosas de Eike Batista e Sérgio Cabral
Apartamento da empresa no Rio foi lacrado
No fim da semana passada a Nissan enviou representantes para trocar a fechadura e lacrar um apartamento da empresa no Rio de Janeiro, que era usado por Ghosn quando ele estava no Brasil. A família do executivo filho de libaneses, nascido no Brasil e com cidadania francesa, entrou com pedido na Justiça brasileira para retirar os bens pessoais de Ghosn e familiares da residência. A liminar foi concedida, mas a Nissan alegou que deveria manter o imóvel trancado pois três cofres ali (não abertos) poderiam conter novas provas contra Ghosn.
A Nissan sugeriu que podem estar no imóvel documentos que comprovariam o envolvimento de Ghosn em negócios irregulares com o empresário Eike Batista e o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, ambos presos e condenados por corrupção.
Quando Eike Batista era o homem mais rico do Brasil, teria se encontrado com Ghosn para negociar o uso do Porto do Açu, um dos megainvestimentos do empresário que não foi concluído. Batista foi condenado a 30 anos de prisão por ter pago propina de R$ 59,1 milhões ao ex-governador Cabral, que por sua vez já acumula 198 anos de detenção por condenações em processos de corrupção nos últimos anos.
Quando Ghosn anunciou o investimento para construir a fábrica da Nissan em Resende (RJ), Cabral era o governador do Estado e negociou benefícios fiscais concedidos ao empreendimento.