O setor elétrico perdeu R$ 65 bilhões em valor de mercado desde a promulgação há cinco anos da MP 579, que renovou antecipadamente as concessões de geração e transmissão, mas submeteu o segmento a uma política de preços definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A constatação é de estudo da consultoria alemã Roland Berger.
Setor elétrico em crise
De acordo com a análise, de 2013 a 2018, as empresas de geração, transmissão e distribuição não conseguiram gerar retornos suficientes para pagar custo de capital, que no setor oscila entre 10% e 12%. Na média, as empresas operaram no período abaixo do patamar máximo, com exceção da transmissão e no ano de 2016, quando o retorno sobre capital foi de 26,1%.
O estudo credita ainda a crise econômica, o aumento dos juros, a inadimplência e o roubo de energia como causa da perda bilionária. O documento, no entanto, sugere que boa parte do prejuízo poderia ter sido evitado se as empresas tivessem corrigido ineficiências.
Ações para gerar capital
A consultoria diz que ações para melhorar a gestão do capital e a análise de riscos poderiam gerar em três anos de R$ 25 a R$ 30 bilhões em valor adicionado, mesmo no cenário regulatório atual. “A MP 579 trouxe prejuízo e há ajustes a fazer, mas dá para ser mais eficiente”, diz Daniel Martins, executivo responsável pela análise.
Martins diz que existe uma lacuna técnica na análise, avaliação e gestão de projetos no setor, que ainda não utiliza modelos de gestão baseados em valor, segundo o qual cada operação consome capital e gera de retorno de forma individual, para ajustar gargalos, negociar melhores tarifas e preços e desinvestir ativos ineficientes.
Ainda segundo o estudo, até R$ 20 bilhões da geração de valor projetada poderiam vir apenas da digitalização de operações. “Existem ineficiências tradicionais que podem ser exploradas para melhorar as margens operacionais junto com otimizações simples”, diz o texto.
Outra constatação é que uma agenda de eficiência e de capital nos próximos anos poderá recuperar o setor elétrico. A condição é que sejam implementadas medidas de eficiência para melhorar margens operacionais, em especial no segmento de distribuição, onde os impactos da MP 579 foram mais severos.