O momento de dificuldades no mercado nacional de óleo e gás levou muitas empresas a buscarem novos negócios em outros países. A companhia brasileira OilFinder, graduada pela Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, desenvolveu uma tecnologia que permite detectar as chamadas exsudações – escapes naturais de óleo no fundo do mar. Agora, a meta da empresa é levar essa solução para clientes internacionais e a Europa foi escolhida como ponto de partida do plano de internacionalização.
Oilfinder conquista novos negócios
“Temos dois projetos no Brasil, um na Europa e temos um próximo que iremos começar em setembro. E estamos prospectando clientes europeus novos para este último projeto”, afirmou a sócia da OilFinder, Cíntia Soares. A companhia também está com um projeto de mapear as exsudações de óleo em Campos e Santos, aproveitando que muitas petroleiras fizeram aquisições nestas áreas nos recentes leilões de blocos exploratórios.
“Vamos começar o estudo em agosto ou setembro e deve levar cerca de três meses. Nós planejamos ter os dados prontos até novembro, quando teremos um mapa bastante interessante sobre os escapes de óleo no fundo de mar”, detalhou a executiva.
Poderia detalhar sobre o funcionamento da tecnologia desenvolvida pela empresa?
Essa tecnologia foi desenvolvida durante o doutorado do meu sócio, Manlio Mano, na Coppe/UFRJ. É uma solução que usa imagens de satélite. Na indústria, já se utilizava esse meio para identificar manchas de óleo na superfície do mar. Mas a tecnologia que desenvolvemos é um simulador de circulação oceânica para que, uma vez detectada uma mancha de óleo na superfície do mar, consigamos identificar a sua origem.
Essa é a informação mais interessante para as equipes que trabalham com petróleo, que usam muitas informações de geologia para identificar qual tipo de rocha existe embaixo do nível do mar. Esses dados de satélites já eram utilizados de alguma forma pela indústria para descobrir pistas de possíveis reservatórios. Mas nossa tecnologia dá uma precisão maior sobre onde está a origem, no fundo do mar, da mancha de óleo.
Quais são os principais clientes atualmente?
Nós trabalhamos com a Petrobrás desde que começamos. O nosso projeto de validação, antes da empresa ser fundada, foi feito com a estatal. A partir de então, trabalhamos com eles em diversos projetos. Também estamos atuando junto a outras empresas que passaram a reforçar suas empresas no Brasil. Entre 2012 e 2014, o país recebeu muito investimento dessas companhias estrangeiras.
Foi um momento que conseguimos expandir nosso portfólio de clientes para além da Petrobrás. Mas em virtude da crise do preço do petróleo, muitas equipes dessas empresas estrangeiras voltaram para suas sedes. E isso fez com que acelerássemos nosso plano de internacionalização.
Quantos projetos estão em curso atualmente?
Temos dois projetos no Brasil, um na Europa e temos um próximo que iremos começar em setembro. E estamos prospectando clientes novos na Europa para este último projeto.
Hoje, como disse, já temos um cliente europeu. É um projeto longo, para um estudo bastante abrangente. Temos percebido também que o Brasil está voltando a ser interessante aos olhos dos investidores. Isso porque o governo tem retomado os leilões. Mas os tomadores de decisão dessas empresas estrangeiras estão, eu sua maioria, fora do Brasil.
A empresa prevê ter um faturamento 32% maior em 2018 do que em 2017. Ao que se deve esse crescimento?
Essa expectativa de aumento de faturamento é real, a partir do momento que temos projetos contratados. Já temos um fluxo de caixa futuro que será melhor em relação ao ano de 2017. Essa previsão de aumento de faturamento é baseada nos contratos já acertados. Ainda temos uma expectativa desse número ser maior ainda, por conta do reforço nas vendas que faremos neste segundo semestre. Vamos visitar antigos clientes pela Europa.
Gostaria que detalhasse o plano de internacionalização da companhia.
A questão da internacionalização é um assunto que sempre existiu, desde que a empresa foi criada, até pela natureza dos serviços que prestamos. Como trabalhamos com tecnologia remota, sempre houve esse desejo e entendimento de aplicar a solução em qualquer lugar do mundo. Em 2014, participamos de um programa da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), que selecionava 50 empresas de todo o mundo. Passamos por um processo de consultoria de seis meses.
Eles fizeram uma análise de nossa tecnologia e propuseram um plano de negócios, identificando gargalos, formas de internacionalização, mercados potenciais e uma série de insights. Naquela época, entendemos que faríamos a internacionalização em alguma momento, mas focamos nos projetos do Brasil. A partir de 2017, começamos a retomar esse plano, porque muitos dos nossos clientes saíram do país. Entendemos que precisamos nos mover para onde eles estão agora.
Por que a Europa foi escolhida para dar início ao plano de internacionalização?
Optamos por vir para Europa porque, dado nosso conhecimento e relacionamento com antigos clientes, entendemos que são as empresas que tinham maior aceitação, interesse e abertura para uma empresa brasileira de tecnologia. Existe uma barreira, que não é pequena, quando se é uma startup brasileira com uma tecnologia inovadora em um mercado que já faz muito dinheiro há muito tempo. Por isso, o melhor mercado, com melhor abertura, é o europeu. Escolhemos Portugal como nosso hub e porta de entrada na nossa expansão para a Europa.
E quais serão os próximos passos?
Estamos focado em fazer nosso esforço no segundo semestre. Fizemos uma série de mudanças em questões de marca e identidade para que deixássemos de ser apenas uma empresa brasileira para passar a ser internacional. Queremos realmente colocar nossa marca e atividade comercial fora do Brasil.
A companhia está com um projeto de mapear as exsudações de óleo em Campos e Santos. Explique mais sobre isso.
Campos e Santos são regiões bastante compreendidas no offshore brasileiro. Mas tivemos novas rodadas com blocos que já são um pouco mais offshore e novas fronteiras. Normalmente, não temos muito dados sobre essas áreas.
Faz muito sentido então ter um conjunto de dados, como o que disponibilizamos, como primeira pista de entendimento daquela região. Nossa informação consegue ter uma escala muito ampla, já que trabalha com imagem de satélite. Dessa forma, é possível fazer um estudo regional – ou seja, no mesmo estudo, ter uma boa visão de como está a atividade de exsudações naquela área.
Já temos empresas interessadas. Vamos começar o estudo em agosto ou setembro e deve levar cerca de três meses. Nós planejamos ter os dados prontos até novembro, quando teremos um mapa bastante interessante sobre os escapes de óleo no fundo de mar dentro de Campos e Santos. Todos os clientes interessados têm até agosto para sinalizar sua participação.