Fábrica de motores da Ford agora é 4.0

Planta completa 50 anos, eleva capacidade para 500 mil/ano e já produz Dragon 1.5 3C e caixa manual MX65

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Fábrica de motores da Ford

fábrica da Ford em Taubaté (SP) já produziu 8 milhões de motores e 7 milhões de transmissões em 50 anos de atividades completados este ano, mas agora está mais nova do que nunca. Para produzir no País a transmissão manual MX65 e o motor tricilíndrico Dragon 1.5 – que desde o ano passado era importado da Índia para equipar o EcoSport e agora, nacional, também estará sob o capô do Ka Freestyle –, a planta foi totalmente remodelada no último ano, passou a operar sob os conceitos da chamada indústria 4.0, altamente automatizada e conectada em rede.

Após o período de reformas, a fábrica de motores da Ford elevou a capacidade de produção de 430 mil para 500 mil unidades/ano (o número é parecido para transmissões) e já opera em três turnos. Além do Dragon 1.5 3C que entrou em linha agora e já é enviado a fábrica de Camaçari (BA), onde é incorporado ao EcoSport e Ka, a planta também segue fabricando o Sigma 1.6 de quatro cilindros que equipa o Fiesta feito em São Bernardo do Campo (SP) e o Focus na Argentina. O Sigma 1.5 já parou de ser produzido. Não há planos de exportar o Dragon 1.5 3C isoladamente, só sob o capô dos carros da marca produzidos no Brasil e vendidos em outros mercados sul-americanos.

Não foi revelado o valor do investimento, apenas que foi de “centenas de milhões de reais” e que é independente do último programa de aportes no País revelado pela empresa. Mas é possível notar, andando pela fábrica, que se tratou de bom volume de recursos.

Nacionalizamos a produção de dois componentes muito importantes para nosso portfólio na região, e para isso transformamos Taubaté em uma planta conectada e inteligente, que agrega alguns dos processos mais modernos do mundo com os conceitos da indústria 4.0Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul

O executivo afirmou que o investimento foi possível graças a entendimento com o governo do Estado de São Paulo, para utilização do programa Pró-Veículo de abatimento de créditos do ICMS, e acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, que em troca de estabilidade para os 1,3 mil funcionários da fábrica nos últimos dois anos aceitou o congelamento de salários, sem nenhum reajuste, e a redução deles em 10% por certo período. “Foram acordos fundamentais para a melhoria da planta de Taubaté”, destacou Watters. Além dos empregados contratados, a unidade também agrega cerca de mil terceirizados, segundo o sindicato local.

Segundo a Ford, os funcionários precisaram ser requalificados para operar os novos processos, passaram por um total de 250 mil horas de treinamento em programa montado sob medida em conjunto com o Senai. Alguns empregados passaram meses em Detroit para desenvolver a produção do novo motor, enquanto outro foram para a Alemanha, na Getrag, para aprender a manufatura da transmissão MX65.

Produtividade de Fábrica 4.0


Na linha automatizada da Ford em Taubaté, o motor circula levando junto sua caixa de componentes periféricos que serão instalados ao longo da produção

Por dentro, tudo mudou na planta de Taubaté. Os equipamentos são novos e o nível de automação é bastante elevado, há pouco contato manual. A unidade recebeu 44 novos robôs, 30 deles somente na produção do novo motor 1.5. Os blocos recebem um QR code no início da linha e os processos e componentes que vão sendo agregados são rastreados do começo ao fim, do parafuso ao aperto dele. Os dados de todas as máquinas podem ser monitorados em tempo real em qualquer unidade da Ford no mundo. Até a entrega dos motores já montados às docas de expedição é feita por dois carrinhos autônomos elétricos (AGVs) que substituíram as empilhadeiras a gás. As operações são checadas digitalmente por sensores e câmeras, assim nenhum motor passa por retrabalho ao fim da produção.

Ao lado de China, Índia e México, o Brasil é o quarto país onde a Ford produz o Dragon 1.5 3C, considerado o motor aspirado mais potente do mercado, com 137 cavalos quando alimentado com etanol. Taubaté também é a quarta planta no mundo a fabricar a transmissão MX65, feita atualmente na França, China e Índia. A nova caixa traz evoluções, tem maior precisão de engates e é 8 kg mais leve do que a antecessora IB5.

A elevação da produtividade trazida pelos novos processos em Taubaté foi fator chave para fazer valer apena produzir o Dragon 1.5 no Brasil em nível de igualdade com os anoréxicos custos indianos.

Compensa fazer o motor aqui por causa da produtividade que conseguimos alcançar na fábric de Taubaté Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos da Ford América do Sul

Mas para a Ford o nível de demanda no Brasil ainda não compensa os custos de localizar a produção de transmissões automáticas (atualmente importadas do México para os modelos nacionais da marca) e nem a inclusão de turboalimentação e injeção direta de combustível no novo motor tricilíndrico.

“Conseguimos com este motor superar as exigências de eficiência energética atuais e futuras propostas no Rota 2030, por um preço que o brasileiro pode pagar. Temos a tecnologia (turbo e GDI) e poderemos fazer aqui quando existir demanda”, diz Golfarb. “O mesmo acontece com a transmissão, nacionalizamos a manual porque ainda é a mais usada no País atualmente”, completou.

A nova linha de produção da transmissão manual MX65 da Ford em Taubaté