Reajuste de combustíveis impõe “viés de alta” à inflação

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A nova política de preços de combustíveis da Petrobras coloca viés de alta na inflação de novembro, que deve acelerar em relação a outubro, avaliam economistas. As projeções atuais para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atualmente em cerca de 0,45%, podem ser ajustadas para cima, a depender dos próximos movimentos da estatal.

 

Ontem, a Petrobras anunciou outro reajuste do combustível nas refinarias, de 1,2%, válido a partir de hoje, a sétima correção apenas neste mês. Contabilizando as cinco altas e duas quedas concedidas até agora, houve avanço de 6,2% ao distribuidor em novembro. Desde o início da nova metodologia, em 3 de julho, o aumento é de 28,78%. A gasolina tem peso de 4,1% no indicador oficial de inflação.

 

Fabio Romão, da LCA Consultores, mantém em 0,46% sua estimativa para a variação do IPCA este mês, mas deve rever a previsão para a gasolina, devido aos reajustes com frequência quase diária. Nos cálculos de Romão, cada 10% de alta do combustível ao distribuidor chega com intensidade menor às bombas, de 4,5%, e adiciona 0,19 ponto percentual ao índice de inflação.

 

O economista pondera, no entanto, que os reajustes nas refinarias não estão sendo repassados com a mesma intensidade ao consumidor, nem no mesmo momento em que ocorrem. “A demanda não chancela os repasses, e o dono de posto não tem como acompanhar os reajustes que são quase diários”, diz.

 

Nas estimativas da LCA, a gasolina vai subir 6,18% este ano, uma das principais pressões sobre os preços administrados, que devem aumentar 8,24%. Em 2018, devido à tendência de alta prevista para o petróleo e também para o câmbio, o combustível deve acelerar para 8,22%, projeta Romão. “Esse é um dos motivos pelo qual estimo alta de 4,5% para o IPCA no ano que vem”, diz.

 

A alta adicional de 1,2% da gasolina nas refinarias pode fazer com que a inflação de novembro seja maior do que o projetado, concorda André Muller, da AZ Quest. Em seus cálculos, o IPCA vai subir 0,45% este mês, mas o número pode ser revisto para cima em função da trajetória do combustível. “A projeção está considerando aumento de 2,3% da gasolina, mas o número deve ser maior do que isso em função do que está acontecendo”, diz Muller, referindo-se aos reajustes periódicos.

 

Considerando que o nível da gasolina nas refinarias permaneça inalterado e que todo o aumento já efetuado seja repassado pelos postos aos consumidores, ainda existe um impacto potencial de 0,15 ponto percentual no IPCA vindo do combustível, calcula.

 

“Não é esperado que isso aconteça e os postos não devem repassar todos os aumentos de uma vez, mas essa estimativa reforça o viés de alta para as projeções de inflação”, diz Muller. No cenário da gestora de recursos, o IPCA encerrará 2017 com alta de 3,15%, com avanço de 7,8% da gasolina, também impulsionado pelo aumento da alíquota de PIS/Cofins sobre o combustível. Nas estimativas do economista, cada 10% de reajuste da gasolina nas refinarias adiciona 0,2 ponto ao IPCA.

 

A previsão de alta de 3,2% para o indicador oficial de inflação em 2017 tem alguma “gordura” para acomodar possíveis pressões não incorporadas da gasolina, que deve aumentar 7% no ano, afirma Márcio Milan, da Tendências Consultoria. “A estimativa é daí para cima”, diz.

 

De acordo com Milan, para o próximo ano o único fator de alívio no cenário é a expectativa de ausência de novos reajustes na alíquota de PIS/Cofins. A tendência para o barril de petróleo no mercado internacional é de alta, diz, e a perspectiva de depreciação do câmbio deve ajudar a pressionar a gasolina internamente.

 

O diesel também vem sendo reajustado quase diariamente e acumula valorização de 24,17% desde julho, mas seus impactos sobre o IPCA são indiretos e devem ser observados no próximo ano, quando forem incorporados aos reajustes de transporte público, observa Romão, da LCA.