Pedro Nelson Belmiro
Pedro Nelson A. Belmiro é Coordenador da Comissão de Lubrificantes do IBP, Co-autor do livro Lubrificantes e Lubrificação Industrial e Editor da revista lubes em Foco.
O Brasil se prepara para mudanças estratégicas importantes na área de combustíveis e lubrificantes. São mudanças que virão a reboque de programas de governo, fundamentais para que alguns mercados possam se desenvolver, e até mesmo continuar existindo com relevância na contribuição ao desenvolvimento do país.
Assim, temos hoje em pauta programas de governo como Combustível Brasil, Rota 2030 e Renovabio, que afetarão substancialmente as perspectivas futuras das empresas que, de algum modo, estão envolvidas com a comercialização de derivados do petróleo. Todos esses programas têm foco principal na produção de energia, ou seja, nos combustíveis, uma vez que os volumes envolvidos são imensos e as necessidades maiores ainda.
As discussões mais polêmicas e acaloradas trazem temas como a vocação e facilidade do Brasil para a produção de biocombustíveis e a chegada incontestável de novas tecnologias elétricas de mobilidade, todas com foco em redução das emissões veiculares e eficiência energética.
A Petrobras, em seu Plano de Negócios, já afirmou que não investirá em novas refinarias e, portanto, as importações tendem a aumentar exponencialmente, trazendo grandes preocupações com a infraestrutura presente em portos, dutos, armazenagem e logística de distribuição.
Enquanto as discussões e definições estratégicas para o país avançam, o segmento de lubrificantes vai ficando cada vez mais preocupado com sua participação no processo, já que normalmente nesses casos, os volumes falam mais alto, e podem suplantar a voz, por vezes tímida, de uma indústria de alta contribuição tecnológica e ambiental.
Programas de governo definirão futuro dos lubrificantes
Podemos importar os óleos básicos de alta qualidade que precisamos, uma vez que não podemos fabricá-los nas refinarias brasileiras existentes, mas a indústria do rerrefino precisará se adequar para aumentar a coleta de óleos usados e também produzir básicos de qualidade para que o ciclo da logística reversa se complete plenamente.
Podemos importar e até desenvolver biolubrificantes no país, mas sem incentivo fiscal correremos o risco de ficarmos sem competitividade para oferecer produtos fundamentais para a indústria de alimentos, agricultura, produção de energia verde e outros.
Ou seja, se as melhores alternativas dos programas governamentais apontarem para importações, ao invés de consideráveis investimentos em refinarias e infraestrutura, a indústria de lubrificantes não terá, pelo menos nos próximos anos, dificuldades de acesso à grande capacidade produtiva internacional de óleos básicos, obviamente respeitando-se os intervalos impostos por agentes da natureza, do tipo Harvey e Katrina. Entretanto, sem uma política de governo que também volte seu olhar para os lubrificantes, poderemos ver os custos aumentarem a competitividade nacional ser reduzida perigosamente.
É fácil perceber a diferença entre os volumes envolvidos, quando se consideram os lubrificantes no mesmo baú com os combustíveis. Conforme apresentado no 7º Encontro com o Mercado da revista Lubes em Foco, enquanto as vendas domésticas de óleo diesel giram no patamar próximo de 55 milhões de metros cúbicos, a gasolina se posiciona acima dos 40 milhões de m3, o mercado de lubrificantes luta para se manter acima de 1,3 milhão de m3 . Com esse tipo de avaliação, a indústria de lubrificantes não escapa de se tornar apenas um nicho de mercado que não influencia políticas públicas.
Um novo olhar para os lubrificantes
É imprescindível que governo e mercado olhem para a indústria de lubrificantes com outro olhar que não seja apenas numérico. Uma indústria que está diretamente ligada ao desenvolvimento tecnológico automotivo, que trabalha constantemente com as especificações mais críticas e modernas de todo tipo de indústria, e que já tem uma estrutura bastante eficiente no contexto ambiental de reciclagem, precisa de um olhar diferente e de estar incluída nas políticas públicas, com incentivos às importações e ao desenvolvimento tecnológico.
É fato que o Brasil precisa de definições importantes, inclusive de sua própria identidade, e com as perspectivas para o futuro da indústria automotiva tomando caminhos ainda não conhecidos totalmente, as políticas públicas tornam-se imprescindíveis para que o país consiga determinar com clareza seus caminhos para um futuro promissor.
Voltamos a fazer o alerta e a convidar a todos os envolvidos nesses programas de governo que tenham um novo olhar para a indústria de lubrificantes, percebendo que, mesmo com números pequenos, representa um grande potencial de colaboração para o desenvolvimento do país.