Desafio é alcançar uma produção com qualidade 100%
Profissionais da área de manufatura convivem o tempo todo com um desafio e um sonho: o desafio é alcançar uma produção com qualidade 100%; o sonho, que as máquinas tenham um índice zero de paradas não-programadas. Embora esses objetivos sejam quase utópicos, a indústria chegou incrivelmente perto deles: na fábrica onde produz um sistema de controle de automação a cada segundo em Amberg, Alemanha, a Siemens já consegue um índice de qualidade de 99,99885%. Esse indicador é um dos resultados da digitalização da indústria, um processo capaz de informatizar desde o projeto até operação de uma fábrica, batizado de indústria 4.0.
Siemens
Especialista em automação e eletrificação industrial, a Siemens é ao mesmo tempo um fornecedor e um cliente de suas soluções para indústria 4.0, conta José Frias Jr., diretor da área de digital factory da empresa no Brasil: “A indústria 4.0 está resolvendo o desafio da customização em massa, por exemplo: as linhas de produção têm a flexibilidade para fazer variações de produtos numa mesma plataforma, sem perda de escala”, explica.
Os melhores exemplos são em montadoras
Os melhores exemplos, segundo ele, são em montadoras como a Fiat Chrysler, em Pernambuco, onde são produzidos carros diferentes um após o outro. Com as ferramentas de software disponíveis é possível simular todos os processos antes de construir uma fábrica ou alterar uma linha de produção: “Isso encurta muito o ciclo de novos produtos e reduz o retrabalho.” Essas mesmas ferramentas de planejamento fazem a programação dos robôs da fábrica projetada.
Indústria 4.0
Com esse grau de automação, mesmo empresas com centenária experiência na manufatura como a Ford conseguem resultados animadores, diz Roberto Castro, gerente geral da fábrica de São Bernardo do Campo, onde são produzidos os modelos Fiesta: “Atualmente, produzimos uma carroceria a cada 50 segundos. Mas com os sistemas de indústria 4.0 vimos que havia interrupções imperceptíveis, consumindo perto de 1% do tempo da produção”, revela.
Fábricas da Ford na Ásia
O que na fábrica de São Bernardo é atualização, já é de nascença nas fábricas da Ford na Ásia. “As plantas do Brasil e as de outros países estão evoluindo nessa direção, mas as mais recentes, como na China e Índia, com dois a três anos de operação, já nasceram com esses novos conceitos.”
Controle desses processos se baseia na leitura dos dados IoT*
O controle desses processos se baseia na leitura dos dados que todas as “coisas” enviam ao sistema, que toma decisões quando necessário. No caso das cervejarias da Ambev, há uma busca permanente de oportunidades de melhoria desses processos, diz Eduardo Soares, diretor técnico da companhia: “Temos todos eles mapeados ao longo da cadeia de produção, e uma série de oportunidades de melhoria, como é o caso da manutenção preditiva on-line.” Equipamentos grandes como compressores e caldeiras, ele explica, são equipados com sensores que apontam indícios de falhas, favorecendo a manutenção assim que qualquer indício apareça, evitando paradas não-programadas. Combinada com inteligência artificial, essa modalidade de manutenção já reduziu em 30% a frequência de falhas nos equipamentos, e com isso elevou em 6% o índice de eficiência das linhas de produção nos últimos dois anos.
ABB
A ABB, fornecedora de soluções para indústria 4.0, monitora remotamente cerca de 70 milhões desses sensores, para clientes de todos os tamanhos espalhados pelo planeta, diz Raphael Haddad, gerente de produtos da empresa no Brasil.
Segundo ele, o conhecimento obtido com os dados recebidos ajuda a melhorar os processos em todas essas empresas. “Conseguimos saber, por exemplo, como certo rolamento se comporta ao longo do tempo, e podemos prever com precisão quando ele irá falhar e terá de ser substituído.”
Atualmente, a ABB investe perto de 6% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento, diz Haddad, e metade do portfólio já é baseado em softwares: “Cada solução da ABB é desenvolvida pensando-se em conectividade, e nossos equipamentos são desenvolvidos com inteligência embarcada, para que as informações das ‘coisas’ das indústrias sejam estejam disponíveis para controle e otimização.”
Electrolux
Na Electrolux, as estratégias de indústria 4.0 estão em plena utilização, revela Ramez Chamma, vice-presidente de operações industriais. “Em um projeto recente, com o uso dessas tecnologias, fizemos 18 simulações diferentes e conseguimos reduzir o tempo da operação em mais de 50%.” Em atividades mais complexas, conta Haddad, já estão em teste os “cobots”, robôs colaborativos para interação homem-máquina.