Com o objetivo de reduzir custos, a indústria sucroenergética prevê a autossuficiência elétrica por meio do aproveitamento do bagaço de cana com a substituição do diesel utilizado no maquinário das usinas pelo biometano. Em fevereiro de 2015, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) regulamentou o uso do biometano em veículos no Brasil.
O combustível é gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos, 100% renovável e tem características químicas semelhantes ao GNV. A regulamentação era aguardada desde 2011, ano em que foram iniciados testes com veículos movidos a biometano no país.
Biometano em substituição ao diesel
“Se observarmos o ciclo de carbono de uma usina de açúcar e etanol poderemos perceber que já se mostra bastante favorável em termos ambientais, o que torna o etanol um combustível verde e sustentável. Com a substituição do diesel no canavial, o ciclo de carbono tende a ser nulo ou negativo, tornado o etanol um combustível ainda mais sustentável ambientalmente”, pontua Daniel Atala, coordenador da Divisão Industrial do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
Atala pontua que alternativas já foram pensadas e avaliadas na substituição do diesel no canavial, como o uso do etanol na frota agrícola e o uso de biodiesel entre outras opções. “Neste contexto, o biogás se apresenta efetivamente como uma alternativa de grande potencial a ser usada e incorporada ao mix produtivo como o açúcar, o etanol, a energia e o próprio biogás”, esclarece.
O consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Swarc, afirma que a autossuficiência da frota agrícola é uma possibilidade e depende do interesse de cada grupo empresarial e sua capacidade de fazer os investimentos necessários. “Acredito que será um processo inicialmente vagaroso dada a atual capacidade das empresas em realizar os investimentos necessários. De todo modo sempre há empresas pioneiras que lideram inovações e, assim, em certos casos, isso pode acontecer mais rapidamente,” pontua.
O conselheiro da Associação Brasileira de Biogás e de Biometano (ABiogás), Márcio Schittini pontua que a produção de energia pelo setor sucroenergético é muito alto, em especial com base na vinhaça. Segundo ele, a expectativa é que até 2.030 sejam produzidos 32 milhões de metros cúbicos por dia de biometano por esse setor. “O estado de São Paulo já possui uma infraestrutura, mas é importante um movimento regulatório. Já nos outros estados, há necessidade de implantação de infraestrutura”, pontua.
Exemplo
A New Holland desenvolve um trator movido a biometano. A previsão da marca estima que o trator esteja disponível para o mercado em três anos. O T6.140 é o primeiro teste em campo do trator movido a biometano na América Latina. O trator é movido biogás produzido com dejetos de galinhas.
“Acreditamos que o biogás seja um vetor de transformação social, econômica e ambiental porque transforma um passivo ambiental em um ativo energético com valor agregado”, enfatiza Rodrigo Galvão, diretor-presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis (CiBiogás), da qual faz parte a Itaipu Binacional.
Com capacidade para armazenar 300 litros de metano comprimido, o T6.140 atende a todos os tipos de culturas, em diversas operações na propriedade. Além da potência tradicional da linha, o protótipo emite 80% menos CO2 do que com combustível fóssil, característica que vai ao encontro ao modelo de agricultura contemporâneo, em que se produz mais com menor agressão ao meio ambiente. “O trabalho com combustível alternativo é um dos pilares da New Holland, que é Líder em Energia Limpa”, conclu Nilson Righi, gerente de Marketing de Produto da New Holland.