O recente anúncio da volta do Grupo Piaggio — leia-se Vespa — ao Brasil joga mais luz em um fenômeno bem visível, especialmente para quem circula pela cidade de São Paulo (SP). É a literal invasão dos scooters, cada vez mais no gosto de quem precisa se locomover de maneira rápida pelo trânsito.
Fora o inegável charme e facilidade de uso, há a brutal praticidade: a maioria dos scooters tem um compartimento sob o banco onde cabe um capacete e, quando ele estiver na cabeça, mochila ou até mesmo uma comprinha de supermercado. O escudo frontal livra as pernas de água, sujeira e frio e tem um importante efeito psicológico e prático no aspecto da proteção e segurança.
Outro fator de sedução é a ausência de qualquer comando nos pés — nas motos, o acionamento do câmbio e freio traseiro depende deles. Isso facilita a tocada. Da transmissão automática, então, nem se fala: para dominar um scooter basta ter algum equilíbrio, saber acelerar e frear.
Além dos bons motivos acima há vários outros: ter seu motor coberto por plásticos e carenagens faz dele um meio de locomoção mais amistoso, menos complexo que a motocicleta, até na aparência.
Outro fator é o ruído, ou melhor, a ausência dele. Há que compre motos inclusive por conta do ronco agressivo do motor, já o público dos scooters corre dos incômodos decibéis: o importante é ser “cool”, passar despercebido, ou chamar a atenção pela escolha mais amiga do meio ambiente.
Um passo adiante
O mercado de motos no Brasil não escapou da crise do momento. Porém, é surpreendente saber da boca de um dos maiores concessionários da capital que seu negócio sobrevive, em boa parte, por causa da venda de scooters: geram cerca de 40% do faturamento.
Será esta uma tendência específica das grandes cidades? Por enquanto, sim, mas a possibilidade dos scooters conquistarem fatias cada vez maiores de mercado não está restrita apenas aos grandes centros urbanos brasileiros.
Do mesmo modo que os donos de motos pequenas sonham com modelos maiores, passar de 150 a 500 cc, usuários de motonetas tipo CUB (Honda Biz é o exemplo mais conhecido e popular) podem ver no scooters o “passo seguinte”.
Público “diferenciado”
Um público chave é o de mulheres. Cada vez mais frequentes ao guidão, mulheres em scooters podem pilotar de saia ou mesmo com sapatos de salto. Não é recomendável sob o aspecto da segurança, mas possível. Não é exagero dizer que para elas (e muitos deles), a hipótese de se locomover em um veículo sobre rodas à motor estaria totalmente descartada, não fosse pela existência de scooters.
Um fator favorável é a diferença do comportamento dos motoristas em relação a scooters e motocicletas. Não raro o caminhão, táxi ou carro que espreme um motociclista em uma via de trânsito rápido passa a ser mais condescendente com os scooters. Por qual razão? Pode ser que a própria aparência mais simpática e frágil, menos agressiva que qualquer moto. Por outro lado há, certamente, uma diferença no modo que os scooters são pilotados.
Definitivamente não se trata de veículo que aceite bem uma pilotagem esportiva. Rodas pequenas, transmissão automática e motores mais voltados à consumo baixo do que à performance não incentivam malabarismos. Há ainda o tipo de condutor que, como dissemos, talvez não optasse por ter uma moto caso os scooters não existissem.
Enfim, scooters não são exatamente novos personagens das ruas — lembremos que a Vespa e as Lambretta foram muitos populares no Brasil nos anos 1950/60 — mas estão se revelando uma opção esperta. Agradam quem já é íntimo das duas rodas e atraem quem jamais considerou ter moto. Mais do que uma tendência, são um filão em franca expansão, com cada vez mais modelos e usuários, novos ou nem tanto.